quinta-feira, 15 de maio de 2014

CAMÕES, GRANDE CAMÕES, QUÃO SEMELHANTE

                                                                                    
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar c’o sacrílego gigante:

Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:

Ludíbrio, como tu, da sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:

Modelo meu tu és... Mas, ó tristeza!. . .
Se te imito nos trances da ventura,
Não te imito nos dons da natureza.


Manuel Maria du Bocage

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