terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

PARÁBOLA DOS SETE VIMES


ERA uma vez um pai que tinha sete filhos.  Quando estava  para  morrer,   chamou-os  todos  sete  e  disse-lhes assim:
- Filhos, já sei que não posso durar muito; mas antes de morrer, quero que cada um de vós me vá buscar um vime seco, e mo traga aqui.
- Eu também? — perguntou o mais pequeno que tinha só 4 anos. O mais velho tinha 25, e era um rapaz muito reforçado e o mais valente da freguesia.
- Tu também, — respondeu o pai ao pequeno.
Saíram os sete filhos; e daí a pouco tornaram a voltar, trazendo cada um seu vime seco.
O pai pegou no vime que trouxe o filho mais velho, e entregou-o ao mais novinho, dizendo-lhe:
- Parte esse vime.
O pequeno partiu o vime, e não lhe custou nada a partir.
Depois o pai entregou outro vime ao mesmo filho mais novo, e disse-lhe:
- Agora parte também esse.
O pequeno partiu-o; e partiu, um a um, todos os outros, que o pai lhe foi entregando, e não lhe custou nada parti-los todos. Partido o último, o pai disse outra vez aos filhos:
- Agora ide por outro vime e trazei-mo.
Os filhos tornaram a sair, e daí a pouco estavam outra vez ao pé do pai, cada um com seu vime.
- Agora dai-mos cá, disse o pai.
E dos vimes todos fez um feixe, atando-os com um vincelho. E voltando-se para o filho mais velho, disse-lhe assim:
- Toma este feixe! Parte-o!
O filho empregou quanta força tinha, mas não foi capaz de partir o feixe.
- Não podes? — perguntou ele ao filho.
- Não, meu pai, não posso.
- E algum de vós é capaz de o partir? Experimentai.
Não foi nenhum capaz de o partir, nem dois juntos, nem três, nem todos juntos.
O pai disse-lhes então:
- Meus filhos, o mais pequenino de vós partiu sem lhe custar nada todos os vimes, enquanto os partiu um por um; e o mais velho de vós, não pôde parti-los todos juntos; nem vós, todos juntos, fostes capazes de partir o feixe. Pois bem, lembrai-vos disto e do que vos vou dizer: enquanto vós todos estiverdes unidos, como irmãos que sois, ninguém zombará de vós, nem vos fará mal, ou vencerá. Mas logo que vos separeis, ou reine entre vós a desunião, facilmente sereis vencidos.
Acabou de dizer isto e morreu, – e os filhos foram muito felizes, porque viveram sempre em boa irmandade, ajudando-se sempre uns aos outros; e como não houve forças que os desunissem, também nunca houve forças que os vencessem.

Trindade Coelho

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O amor, quando se revela


O amor, quando se revela,
não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente.
Cala: parece esquecer.

Ah, mas se ela adivinhasse,
se pudesse ouvir o olhar,
e se um olhar lhe bastasse
pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
quem quer dizer quanto sente
fica sem alma nem fala,
fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
o que não lhe ouso contar,
já não terei que falar-lhe
porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Conheces o autor do mês...

A sua obra reflete a infância passada em Trás-os-Montes, num ambiente tradicionalista que ele fielmente retrata, embora sem intuitos moralizantes. O seu estilo natural, a simplicidade e candura de alguns dos seus personagens, fazem de Trindade Coelho um dos mestres do conto rústico português. Dedicou-se a uma intensa actividade pedagógica, na senda de João de Deus, tentando elucidar o cidadão português para a democracia. De seu nome completo José Francisco Trindade Coelho, nasceu em Mogadouro, em 18.6.1861. Aí fez os primeiros estudos, nomeadamente na área de Latim, com o apoio de dois padres.  Daqui seguiu para o Porto, onde fez em colégio, os estudos secundários.  A terceira etapa era Coimbra, onde concluiu o curso de Direito.  Embora os pais fossem ricos (a Mãe morreu ainda ele era jovem) a verdade é que ele chumbou no 1.' ano do curso de Coimbra e o Pai cortou-lhe a mesada, pelo que Trindade Coelho teve que arranjar forma de ultrapassar as dificuldades.  Começou a dar explicações e a escrever em jornais.  Entretanto casou e apareceu um filho, facto que mais complicou a sua vida, enquanto estudante.  Chegou a ter um esgotamento.  E ele próprio escreveria do ambiente Coimbrão: "aquela vida em que estive metido e que nunca se deu comigo nem eu com ela, mas em que nunca me dei razão porque lha atribuía a ela e a mim uma inferioridade que mais pesava por ser sincera".  Nesse período escrevia nos jornais com o pseudónimo de Belistírio.  Também fundou, nessa época, duas publicações: Porta Férrea e Panorama Contemporâneo.  Após a conclusão do curso permaneceu em Coimbra, como advogado.  Mas a clientela era pouca e ele enveredou pela carreira administrativa.  Ingressa na magistratura e é colocado como Delegado do Procurador Régio, na comarca de Sabugal.  Sabe-se que para obter esse lugar, foi precisa a «cunha» de Camilo Castelo Branco, que admirava, literariamente Trindade Coelho.  Sabe-se que valeu a pena porque foi Trindade Coelho um magistrado de elevadíssima craveira moral.  Foi depois transferido para a comarca de Portalegre.  Aí fundou dois jornais: Gazeta de Portalegre e Comércio de Portalegre.  Entretanto granjeara fama e os políticos da época quiseram fazer dele um deputado.  Como não podia candidatar-se pelo círculo onde trabalhava, foi transferido para Ovar.  A última etapa profissional foi Lisboa, onde não teve tarefa fácil por causa do Ultimato Inglês, durante o qual ele teve que fiscalizar a imprensa da capital.  Desgostado com as críticas que lhe faziam transferiu-se para Sintra, em 1895.  Chegou a ir a África (Cabo Verde) defender 33 presos políticos.  Ao fim de 3 meses regressou vitorioso, porque conseguiu libertar os presos, prendendo os acusadores.  Continuou a escrever nos jornais: Portugal, Novidades, Repórter e fundou a Revista Nova, onde publicou os Folhetos para o Povo.  Era um homem inconformado.  Nem a fama de magistrado, nem o prestígio de escritor, nem a felicidade conjugal conseguiam fazer de Trindade Coelho um cidadão feliz. À medida em que avançava no tempo mais se desgostava com a vida, pelo que o desespero o levou ao suicídio em 9.6.1908. Deixou uma obra variada e profunda, distribuída por quatro vertentes.  Jornalismo, carácter jurídico, intervenção cívica e literária.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Dia de S. Valentim


No dia 14 de Fevereiro, celebrou-se o Dia de S.Valentim, com vários grupos de alunos da nossa escola, de diferentes anos escolares, a visitaram os colegas de outras turmas e presentearam-os com a leitura de poemas em Português, Inglês e Espanhol.

Este mês sugerimos ouvir...


Ana Free, nome artístico de Ana Gomes Ferreira (Lisboa, 29 Junho de 1987),é uma cantora e compositora que teve uma série de singles no Top 5, incluindo um número 1, em Portugal. Ana Free é uma presença musical crescente no popular site de partilha de vídeos YouTube, tendo mais de 29 milhões de visualizações dos seus vídeos. Criada por mãe britânica e pai português,Ana cresceu com o seu irmão mais velho em Cascais.Desde muito cedo mostrou ser apaixonada por escrever poesia e histórias e começou a escrever e compor aos 10 anos de idade. Aos 8 anos, o seu pai começou a ensiná-la a tocar numa pequena guitarra que pertencia ao irmão mais velho. Durante os últimos 16 anos, Ana Free tocou guitarra fluentemente e acumulou mais de 300 composições originais.Ana teve aulas de piano durante 3 anos no início da adolescência mas desistiu por sentir que não podia tocar o que gostava. Foi também apaixonada por dança e participou em aulas de jazz, ballet e sapateado enquanto crescia. Durante a sua infância, estudou na St.Julians International School em Carcavelos, onde adquiriu o seu sotaque característico.Teve a sua primeira actuação ao vivo na televisão no Verão de 2007 na TVI, em Portugal, onde cantou "Crazy", uma canção original. Está actualmente a gravar o seu primeiro álbum depois do sucesso do primeiro single, que foi lançado a 23 de Maio de 2008, "In My Place".A popularidade desta canção levou-a a estar presente na banda sonora de séries e novelas como Morangos com Açúcar e Podia Acabar o Mundo.
Em Novembro de 2008, Ana foi convidada para gravar o tema português “Voa Até Ao Teu Coração” aquando do lançamento do filme da Disney “Sininho”, para o qual também gravou um videoclip.
Ana está frequentemente em digressão por Portugal, e, ocasionalmente, em Londres e Nova Iorque,e as suas actuações são gravadas por amigos e enviadas para os seus blogs e websites. Ana abriu o palco para o cantor/compositor britânico James Morrison no Verão de 2010 e, em Novembro, abriu o espectáculo da Shakira, momento que a Ana considera ser dos mais especiais e determinantes da sua carreira. Mais tarde, foi a única artista feminina a abrir o palco ao cantor Joe Brooks na sua digressão pelo Reino Unido. Algumas das suas canções mais populares, com mais de um milhão de visualizações cada, incluem covers de Nickelback, "Savin 'Me", o sucesso dos The Rolling Stones, "Angie", e o tema do Campeonato do Mundo "Waka Waka (This Time for Africa)" de Shakira.
Ana encontra-se atualmente a viver e gravar no Reino Unido e terminou em 2008, com menção honrosa, a licenciatura em Economia na Universidade de Kent. Ana desenvolveu um gosto especial para temas como “Comércio Internacional” e “Teoria de Jogo” e decidiu escrever a sua dissertação sob o título de “Qual o Impacto da Tecnologia sobre a Estrutura das Grandes Gravadoras (entre 1995 e 2005)”, pela qual recebeu uma distinção. No momento em que a sua popularidade online começou a aumentar, Ana foi abordada por várias gravadoras que queriam contratá-la, mas não se concretizou na altura devido ao seu desejo de terminar a Universidade antes de tomar uma decisão tão grande. Para além de ser fluente em Inglês e Português, Ana também fala Espanhol, Francês e Grego.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O papagaio que dizia "Amo-te"


Talvez por ser órfã de mãe e por o seu pai estar sempre fora de casa, Beatriz crescera triste e solitária. Na escola, chamavam-lhe “Beatriste”, porque se sentava sempre sozinha e não queria brincar com os colegas.
Em casa, depois de feitos os deveres, metia-se no quarto e lia até adormecer.
Beatriz tinha um pesadelo frequente: estava numa ilha deserta e não avistava nenhum barco. À noite, tinha frio e, de dia, fome e sede, pois o único alimento que havia na ilha era o coco. Ao acordar, Beatriz dizia para consigo: “Afinal, a minha vida é igual à do meu pesadelo”.
Não tinha amigos e os dias sucediam-se sem sentido, uns atrás dos outros, como cocos a cair de palmeiras.
Como dormia mal de noite, Beatriz acordava com sono e com poucas forças para falar com o pai. Este via o noticiário e saía logo a correr para o escritório, onde ficava a trabalhar até muito tarde. Quando voltava, já Beatriz estava a dormir, ou melhor, acordada, na sua ilha deserta cheia de coqueiros.
A menina interrogava-se se o pai gostaria mesmo dela ou se viera a este mundo por acaso, já que ele nunca a abraçava, beijava ou dirigia palavras de carinho. As conversas com ele eram sempre do género:
— Beatriz, não te esqueças, como ontem, do caderno dos deveres.
— Sim, papá.
— Já puseste o lanche na pasta?
— Sim, papá.
— Não atravesses a rua com o sinal vermelho ou amarelo!
— Sim, papá.
As trocas de palavras entre ambos não passavam disto, porque o pai, se calhar, era tão tímido como ela. Talvez ele também vivesse numa ilha, que barco algum jamais visitava…
******
Contudo, numa segunda-feira de manhã, aconteceu algo extraordinário que mudaria para sempre a vida de Beatriz.
Ainda não bem desperta, a menina teve a impressão de estar a ser observada. Todavia, ao abrir os olhos, viu que não havia ninguém no quarto. Nem se ouvia sequer o barulho da televisão, sinal de que o pai já tinha saído e lhe deixara o pequeno-almoço em cima da mesa.
Mas, quando olhou para a janela, Beatriz viu um papagaio grande e verde, pousado nas cordas do estendal. A ave olhava para ela de esguelha. Recuperada do susto, a menina perguntou-se de onde teria vindo aquele papagaio e o que faria ali, a espiá-la. Cheia de curiosidade, saltou da cama e abriu a janela para o ver melhor.
— Papagaio, pequenino, vem cá! — chamou-o em voz baixa, para não o assustar.
Tinha certamente escapado da casa de algum vizinho, pois logo respondeu ao convite de Beatriz, acercando-se dela.
— Perdeste-te? — perguntou a menina. — Vens de alguma ilha longínqua, cheia de palmeiras?
A ave pousou no braço de Beatriz, que a princípio se assustou. Porém, quando viu que o papagaio não a picava e que queria ser seu amigo, pô-lo no seu quarto, onde colocou um copo de água e um prato com migalhas de pão. Em seguida, saiu para a escola, muito feliz.
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Ao meio-dia, telefonou ao pai para lhe contar o que se tinha passado e para lhe pedir que a deixasse ficar com o papagaio. Ia chamar-lhe Tequilha porque imaginava que ele tinha vindo de um país longínquo onde bebiam esse licor.
O pai falava pouco mas era muito atento. Por isso, quando Beatriz voltou da escola, já encontrou Tequilha instalado numa gaiola dourada, com o comedouro cheio de sementes de girassol.
— Olá! — cumprimentou-a, na sua voz estridente.
— Sabes falar! — exclamou a menina, admirada. — Ora vê se consegues dizer o meu nome: Beatriz, Beatriz, Beatriz…
Tequilha seguia atentamente a lição e movia o bico, mas não conseguia repetir o nome. Beatriz, que lera que os papagaios e os periquitos têm muita facilidade em pronunciar o “t”, disse-lhe:
— Chama-me então Beatriste, como fazem na escola. Beatriste, Beatriste…
Nem precisou de o repetir pela terceira vez, porque o papagaio logo exclamou:
— Beatriste!
A dona, orgulhosa, pulou de alegria. Depois de um dia tão bonito e emocionante, e logo após a empregada lhe ter servido o jantar, Beatriz deitou-se e adormeceu, cansada. Quando a luz da manhã a acordou, Tequilha estava a descascar uma semente, que segurava com uma pata.
— Bom dia, Tequilha! Não cumprimentas a tua Beatriste?
O papagaio acabou de descascar a semente, comeu-a com prazer e bradou:
— Amo-te!
Quando ouviu isto, Beatriz não conteve um grito de emoção. Depois, pensou que não era normal que o papagaio tivesse dito uma expressão típica de um galã de telenovelas. Será que vira muitas ou teria pertencido a algum par de recém-casados?
Podia ser apenas uma casualidade. Os papagaios brincam com as palavras que vão ouvindo e, por vezes, dizem coisas com sentido.
“Deve ser isso”, pensou Beatriz.
Contudo, na manhã do dia seguinte, Tequilha acordou-a com uma saudação igual:
— Amo-te!
— Quem te ensinou isso? — disse Beatriz. — Só os adultos usam essa palavra.
Como os papagaios falam, mas não conversam, Tequilha continuou a olhar para a sua dona e amiga com grande interesse, sem, contudo, dizer mais nada. Depois descascou outra semente.
Quando na quinta-feira, logo de manhã, o papagaio voltou a exclamar “Amo-te”, Beatriz resolveu investigar. Era estranho que as declarações de amor do papagaio só ocorressem de manhã. Quer de tarde quer à noite, Tequilha só dizia “Olá!”, “Beatriste” ou “Caramba!”.
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Sabendo que o pai ainda estava a tomar o pequeno-almoço, Beatriz correu a expor-‑lhe o mistério. Mas o pai, muito vermelho e quase a engasgar-se, nada respondeu. Levantou-se, apressado, despediu-se da filha com um beijo e saiu de casa com a pasta.
De repente, Beatriz compreendeu o que acontecera e teve vontade de chorar. Só que de felicidade, desta vez! É que Tequilha repetia, cada manhã, o que o pai de Beatriz lhe dizia à noite, quando ela já dormia.