sexta-feira, 21 de maio de 2010

Prazer e conhecer

Cabelos molhados
Ao sol de Inverno
Pequenos desgraçados
Olhando para o Inferno
Como profissão opcional
Parece tão natural
Como semear
Regar e capturar

Pequena loirinha
Com vermelhas maças no rosto
Vermelho do sol-posto
Nas tardes de Agosto
Poderosa criancinha
Com labirintos colossais
Como jardins comunais
Corpo delicado
Com arame farpado complicado
De difícil desenrolar
Só com a luz do luar
Divindade da luz resplandecente
Que se apaga ao iniciar da sessão
Depois de um bravíssimo leilão
E tudo dependente
De uma mera memória esquecida
De um acto inteligente
Jovem adulta apetecida
Nua e despida

Mar...

Aos pés tens mocidade
Ao peito vida salgada
Na nuca a boca do mundo
Quem em ti cai
Às vezes não sai
Tens fundo
Tens idade
Tens canto de sereia apaixonada
Tens amor
Para dar
E por tristeza menor
Não contas as mortes já pela mão
Queres apanhar
Mas não te dão
O que tu queres receber
Pois se eles te derem deixam de viver

Tens corpo salgado
E és virgem desde que nasceste
Pois nunca aprendeste
A contar historias de paixão
Querias que te pagassem um milhão
Para cantar em coro emperrado

Teu vestir
Azul afogado
Mata muita gente
Só de olhar
Para tua mente
O surfista fica apatetado
Pois não sabia nadar
E teve que cair
Nas ondas que teu corpo arquitectou
E teu pai planeou
Para andares reluzente

Campeonato de Língua Portuguesa






















quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Euro

Historia do Euro




Há anos que a nova moeda estava a ser preparada.
O Tratado de Roma (1957) estabeleceu o mercado comum europeu como um objectivo cuja finalidade é assegurar o progresso económico e contribuir para “ uma união mais estreita entre os povos europeus”.
O Acto Único Europeu (1986) e o Tratado da União Europeia (1992), partindo do mesmo objectivo, introduziram a União Económica e Monetária (UEM) e lançaram as bases para a moeda única.
A Terceira fase da UEM teve início no dia 1 de Janeiro de 1999,

Os países participantes na área do Euro passaram a pôr em prática uma política monetária única. O Euro foi introduzido como moeda legal e as 11 moedas nacionais dos Estados – membros participantes passaram a ser subdivisões do Euro. Mais tarde, em 1 de Janeiro de 2001, a Grécia aderiu à UEM e, assim, passaram a ser 12 os Estados – Membros a introduzir as novas notas e moedas de Euros.
O êxito do Euro é então considerado fulcral para a realização de uma Europa onde pessoas, serviços, capitais e bens possam circular livremente.

Dos actuais 27 Estados adoptaram o euro os seguintes países:
Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslovénia, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Países Baixos e Portugal, prevendo-se que com a expansão da União Europeia alguns dos aderentes mais recentes, bem assim como outros Estados – membros mais antigos possam, nos próximos anos, partilhar também o Euro como moeda oficial.

Desafios: Dia da Europa




























Dia da Europa



O que é o Dia da Europa ?

A Europa, enquanto conjunto de povos conscientes de pertencerem a uma mesma entidade que abrange culturas análogas ou complementares, existe já há séculos. No entanto, a consciência desta unidade fundamental, enquanto não deu origem a regras e a instituições, não pôde evitar os conflitos entre os países europeus.
Em 9 de Maio de 1950, Robert Schuman apresentou uma proposta de criação de uma Europa organizada, requisito indispensável para a manutenção de relações pacíficas.
Esta proposta, conhecida como "Declaração Schuman", é considerada o começo da criação do que é hoje a União Europeia.
Os Chefes de Estado e de Governo, na Cimeira de Milão de 1985, decidiram celebrar o 9 de Maio como "Dia da Europa".
O “Dia da Europa” constitui uma oportunidade para desenvolver actividades e festejos que aproximam a Europa dos seus cidadãos e os povos da União entre si.



Quais são os seus símbolos?


A BANDEIRA

A história da bandeira começa em 1955. Nessa altura, a União Europeia existia apenas sob a forma da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, com seis Estados-Membros. No entanto, alguns anos antes tinha sido criado um outro organismo - o Conselho da Europa - que reunia um número superior de membros e cuja função consistia em defender os direitos do Homem e promover a cultura europeia.
O Conselho da Europa procurava um símbolo que o representasse.
Após alguma discussão, foi adoptado o presente emblema - um círculo de doze estrelas douradas sobre fundo azul. Nalgumas culturas, o doze é um número simbólico que representa a plenitude, sendo também o número dos meses do ano e o número de horas representadas num quadrante de relógio. O círculo constitui, entre outras coisas, um símbolo de unidade.
Desde o início de 1986, todas as instituições europeias adoptaram esta bandeira.
A bandeira da Europa é o único emblema da Comissão Europeia - o órgão executivo da UE. Outras instituições e organismos da UE usam um emblema próprio, para além da bandeira da Europa.



O lema da União Europeia





O lema da União Europeia começou a ser usado por volta do ano 2000 e foi pela primeira vez objecto de referência oficial no Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa, assinado em 2004.
“Unida na diversidade” é o lema da União Europeia. Começou a ser usado por volta do ano 2000 e foi pela primeira vez objecto de referência oficial no Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa, assinado em 2004.
Este lema significa que na UE os europeus estão unidos, trabalhando em conjunto pela paz e pela prosperidade, e que o facto de existirem diferentes culturas, tradições e línguas na Europa é algo de positivo para o continente.




O hino europeu



O hino europeu não é apenas o hino da União Europeia, mas de toda a Europa num sentido mais lato. A música é extraída da 9ª Sinfonia de Ludwig Van Beethoven, composta em 1823.

No último andamento desta sinfonia, Beethoven pôs em música a "Ode à Alegria", que Friedrich von Schiller escreveu em 1785. O poema exprime a visão idealista de Schiller, que era partilhada por Beethoven, em que a humanidade se une pela fraternidade.
Em 1972, o Conselho da Europa adoptou o "Hino à Alegria" de Beethoven para hino. Solicitou-se ao célebre maestro Herbert Von Karajan que compusesse três arranjos instrumentais - para piano, para instrumentos de sopro e para orquestra. Sem palavras, na linguagem universal da música, o hino exprime os ideais de liberdade, paz e solidariedade que constituem o estandarte da Europa.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Os Mais vistos em Março


Os Mais lidos em Março


Comentários dos alunos do 7.º B

Actividade do Dia Mundial do Livro

1 – Um homem com o quarto desarrumado e muito concentrado na leitura.
9 – Mostra uma pintura, no inverno com uma criança triste.
22 – Um homem a ensinar uma criança a ler.


António nº5, Diogo nº9 e Rodrigo nº23 – 7ºB


17 – Uma imagem muito original.
9 – Uma criança a ler um livro (mas não deve saber ler).
5 – Um príncipe a ler um livro em cima de uma pata de um dragão.

Fábio, Bruno e Gonçalo – 7ºB


3 – É uma foto lindíssima com muito carisma.
11 – Uma mulher tão magra com um vestido tão grande!!!
19 – Uma mulher a ler no ar! Uau!

Mariana, Mafalda, Margarida e Sofia – 7ºB


31 – É muito criativa, gostámos da imagem. Quem a fez tem uma grande imaginação.
5 – É mesmo fixe.

Bruno, Milton – 7ºB


21 – Achamos que a imagem é inspiradora!
16 – É gira porque nunca se vê um urso a ler um jornal e a beber chá sentado num sofá!
17 – Porque nunca vimos uma pessoa enterrada na areia com livros em cima.

Soraia, Andreia A. E Andreia C. – 7ºB


29 – Um homem deitado no passeio a ler um livro.
19 – Mulher na praia a ler um livro.
17 – Homem a dormir na praia tapado por livros.

André, Miguel, Filipe e Rafael - 7ºB


16 – Está original – um urso a ler um livro.
11 – Ler faz esquecer todos os problemas.
14 – Imaginativa – mostra que ler é interessante.

Maria, Anabela e Catarina – 7ºB

domingo, 9 de maio de 2010

Histórias em quadradinhos


Numa folha de papel quadriculado passa-se cada coisa...
Às vezes, passam-se contas. É o mais normal. Nem sempre as contas batem certo, apesar dos quadrados quadradinhos, muito certinhos, terem sido feitos para contas muito bem contadas, certeiras, certinhas, acertadas.

Quando a conta não está certa, risca-se ou apaga-se. A folha quadriculada tudo consente, mas no fundo, é muito exigente.
Mas há mais: onde estão contas, podem estar contos...
Às vezes, numa folha de papel quadriculado, acontecem histórias. São estas as autênticas, as primeiras histórias em quadradinhos. Como a que vamos contar.

Numa folha de papel quadriculado dum caderno escolar, encontraram-se um quadrado, completamente quadrado, e um triângulo muito triângulo. E muito impertinente.
Dizia o triângulo para o quadrado:
- Estás sempre na mesma. És quadrado, só quadrado e, dês as voltas que deres, ficas sempre quadrado.

Pff! Que figura geométrica mais sem jeito. Que monotonia.
O quadrado calado, muito calado, só ouvia.
Continuava o triângulo:
- Eu sim, sou variável. Umas vezes faço-me triângulo equilátero. Outras, isósceles. Outras, escaleno. Sou um triângulo de muitas formas e feitios. Gosto de variar.

O quadrado calado, calado ficou. Então o triângulo arrebitado espevitou-o:
- Não dizes nada? Vê-se que estás amachucado com a minha sapiência, com a minha variedade. Não é assim, ó quadrado?

Então o quadrado não se conteve mais e ripostou:
- Vai falando, vai, triângulo presunçoso, mas olha que iguais a ti já eu tenho dois, cá dentro!
Então o triângulo ficou tão enfiado que pediu a uma borracha que o apagasse.



António Torrado

Este mês sugerimos o livro...

ÁFRICA ACIMA


Sabias que dia 25 de MAIO é Dia de África?


Para este mês sugerimos como livro do mês África Acima de Gonçalo Cadilhe

Depois do sucesso das fantásticas narrativas de histórias, em Planisfério Pessoal e A Lua Pode Esperar, Gonçalo Cadilhe ofereceu-nos este sublime livro, da editora Oficina do Livro, sobre as suas ínfimas peripécias no planeta Africano, aquele que os viajantes mais experimentados consideram o mais entusiasmante e desafiante de todos os planetas.
A qualidade da escrita de Cadilhe faz-nos sentir, também nós a negociar com os guardas das fronteiras, a atravessar “estradas” em condições impensáveis em carros nas mesmas condições, a sofrer com o calor abrasador. Permite-nos, com a qualidade das descrições, imaginar o grandioso mundo que ele vai conhecendo e invejá-lo.
“É este o meu projecto: atravessar África. Prosseguir do Sul para o Norte utilizando as estradas do continente, recorrendo aos transportes públicos, aos autocarros maltratados pelos anos, aos comboios que ainda andam, pedindo boleia, viajando com as pessoas da terra – em terra onde estiver, farei como vir. Excluo o transporte aéreo, voar sobre África não é viajar por África. Aliás, voar não é viajar”.
A partir deste excerto, consegue-se facilmente imaginar as peripécias, as aventuras, as surpresas e os sustos que se foram sucedendo durante a viagem.
Para saber mais, só mesmo lendo.

Este mês sugerimos o filme...

MALCOLM X


A 19 de MAIO de 1925... Malcolm Little ficou para a história como um dos grandes líderes dos negros norte-americanos com o nome de Malcolm X. A sua infância e adolescência foram marcadas pela violência característica dos guetos pobres norte-americanos. Quando Malcolm tinha apenas seis anos, o seu pai, Earl Little, foi assassinado.

A mãe de Malcolm foi internada num hospital psiquiátrico, de modo que ele e seus sete irmãos foram enviados para orfanatos. Algum tempo depois Malcolm foi morar para Boston e mais tarde mudou-se para o Harlem, bairro de maioria negra em Nova York.

Ainda adolescente, começou a praticar pequenos furtos e envolveu-se no tráfico de droga, sendo preso, em 1946.

Na prisão ocorreu a grande transformação na vida de Malcolm. Estudou islamismo, convertendo-se aos ensinamentos de Elijah Muhammed, líder da "Nação do Islão", organização que congregava os negros muçulmanos dos Estados Unidos. Ao sair da cadeia, em 1952, Malcolm …..

Para saber o que aconteceu a seguir na vida de Malcolm, aceite a nossa sugestão para o filme de mês e veja “Malcolm X”.

Os Mais de Março - leitores


Amizade...

How did this end up like this?


Timidez que foi transformada em simpatia, para posteriormente ser convertida numa estrondosa felicidade interior. Confiança conquistada e partilhada. Sorriso que leva todos os problemas para longe com um só olhar de reconhecimento. Leve amizade passa à amizade de uma vida. Memórias dolorosas subitamente voam para terras longínquas com o vento. Uma gargalhada que prende a atenção de todos, fazendo-os sorrir. Vitalidade recuperada e alma reconstruída. Uma despedida que significa um mundo. Um sorriso, pares de olhos a brilhar com uma súbita visão. Laços formados, supostamente impossíveis de se desfazer. Nós éramos assim...
Sempre ouvi dizer que amizades vão e vêm, mas que as mais importantes ficam. Dia após dia, tento convencer-me de que isso é verdade e só chego a uma conclusão: não é verdade. Quando lidamos com alguém diariamente é sempre mais fácil cuidar de uma amizade. Quando alguém está longe, já é completamente diferente. Pelo menos comigo.
Os laços formados profundamente no meu coração vão ficando frouxos, a força de vontade para superar as saudades que nos separam vai enfraquecendo. A pessoa mais importante da nossa vida torna-se, subitamente, num mero acessório. Uma amizade pela qual outrora enfrentámos tempestades perde-se pelo longo caminho que nos separa. O maior problema, sabem qual é? É só nos apercebermos de tudo isto muito depois de ter acontecido. Aí, já não há qualquer volta a dar. O amor que estava tão enterrado no coração foi-se embora com a corrente do rio. No fim, nada magoa mais do que apercebermo-nos que falhámos. Falhámos com quem amávamos e com nós próprios.
Talvez a culpa não seja nossa. Uma amizade não resulta se apenas uma das partes envolvidas se esforça. Outros problemas chegam e invadem-nos a cabeça, deixamos de ter necessidade daquela atenção que nos fazia sentir importantes.
As saudades esmorecem, cada vez são menores. Um abismo está no meio dos nossos caminhos. Eu estou de um lado e vocês do outro.
Agora percebo que uma adolescente será sempre e unicamente uma adolescente aos olhos dos demais. Mesmo que essa adolescente seja de certa forma diferente.
A felicidade que saía do meu interior enquanto conversávamos, deixou de existir. Não consigo encontrar entusiasmo nas palavras que vos dirijo.
(..)
Um dia, apenas acordei e tudo tinha desaparecido.

Autoria desconhecida
29 de Abril de 2010

A minha mãe está sempre cheia de pressa!

Tudo começou no dia em que a mãe de Ivan retomou o trabalho e começou a olhar o seu relógio com paixão. Durante todo o dia não tirava os olhos dele e dizia:
— Meus Deus, já são cinco horas? Já são seis horas, trinta e sete minutos e vinte e quatro segundos? Já são oito horas e vinte e oito? Mas isto é terrível!
E corria, cabelos ao vento, do emprego para a escola, da escola para o emprego, do emprego para as aulas de violino de Ivan, das aulas de violino de Ivan para as suas aulas de canto, das aulas de canto para o dentista, do dentista para o talho, do talho para a mercearia…
A mãe de Ivan queria fazer tudo. Para ganhar tempo, tinha comprado, numa loja especializada, um par de sapatilhas supersónicas, que tinham um motor que se acciona através de um botãozinho vermelho. Estas sapatilhas chegavam a atingir quinze quilómetros por segundo. Parece muito divertido, não parece?
Só que não era nada divertido, porque a mãe de Ivan achava que o filho era demasiado lento para o seu gosto. Quanto mais pressa tinha, mais o achava indolente. Então, enervava-se e criticava-o. Ficava furiosa com aquilo que via como lentidão, mas que era, na realidade, um comportamento perfeitamente normal. Quando Ivan estava a desenhar, tinha de acabar o desenho em três segundos (tenta tu desenhar um carneiro ou um avião em três segundos e vê se é possível). Quando Ivan tocava violino, tinha de fazer os exercícios em três milésimas de segundo, caso contrário a mãe punha-se a suspirar e olhava para o relógio como se este fosse um comboio que ela tinha de apanhar.
— Despacha-te! — dizia.
Mas parecia dizer “Pacha-te!Pacha-te!”, como se fosse um comboio. À força de tanto correr, a mãe de Ivan pôs-se a fazer disparates. De manhã, em vez de beijar Ivan à despedida na escola, beijava o director. À noite, Ivan saía do banho cheio de sabonete seco, porque não havia tempo para o lavar com água. Em casa, só se comia peixe e carne crus porque não havia tempo para ligar o forno. Um dia, quando, depois de uma festa de aniversário, a mãe foi buscar Ivan a casa de um amigo, saiu com outra criança, porque esta tinha apertado os atacadores dos sapatos mais depressa do que Ivan.
E é claro que se esquecia das coisas essenciais: beijar, fazer mimos ou falar com o filho. Estas eram ocupações que, segundo ela, tomavam demasiado tempo. Não é pois de admirar que Ivan tenha pensado que a mãe já não gostava dele. Então, para tentar prender a sua atenção, como se tenta prender a água entre as mãos, começou a andar mais devagar. De manhã, demorava vinte minutos e quinze segundos para atar um cordão.
Só de um sapato! Quando bocejava, demorava três minutos a abrir a boca.
A mãe ficava louca de raiva, mas este comportamento era mais forte do que Ivan.
Quando mais ela se apressava, mais ele se atrasava. Ivan pensava que se andasse mais devagar, a mãe começaria também a andar mais devagar e poderia amá-lo e abraçá-lo como quando ele era pequenino. Claro que ele podia dizer isto à mãe mas, quando se tem cinco ou seis anos, já não se chora para ter o que se pretende. Então, exprimimo-nos de outra forma.
Toma-se um caminho diferente do das lágrimas.
Certo dia, aconteceu o que tinha de acontecer: Ivan adoeceu de lentidão. Dormia o dia todo. Bocejava, fechava os olhos e não queria fazer nada, como se a mãe o tivesse cansado com tantas correrias. Já não podia ir à escola porque, quando acabava de se vestir, já tinha anoitecido. A mãe consultou inúmeros médicos que faziam urgências (daqueles que chegam de motorizada de quinze em quinze minutos).
O primeiro falou de uma gripe-relâmpago, o segundo de uma infecção cerebral, o terceiro de uma crise de crescimento. Ivan engoliu xaropes de alcaçuz, de framboesa e de banana. Mas continuava a dormir. Então, pela primeira vez em muito tempo, a mãe começou a reflectir. Deitou fora todos os xaropes e sentou-se à cabeceira do filho. Sem fazer barulho, desligou as sapatilhas supersónicas e pô-las aos pés da cama, como fazemos quando estamos à espera do Pai Natal.
Um dia, Ivan abriu os olhos muito devagarinho e viu a mãe a descalçar as sapatilhas. Saltou logo da cama, como se estivesse curado.
— És tu, mamã? Esperaste por mim? Amas-me um bocadinho?
— Claro que te amo. Mesmo quando andava sempre a correr de um lado para o outro amava-te na mesma. Nunca deixei de te amar. Como pudeste pensar, por duas milésimas de segundo, que eu tinha deixado de te amar?
A mãe de Ivan pensou que nunca se diz vezes demais aos filhos que os amamos acima de tudo, mais do que o trabalho, mais do que o nosso emprego, mais do que o tempo que passa, mais do que qualquer outra coisa! Abraçou o seu filho querido com muita força durante quinze minutos, e garanto-te que, naquele dia, nem sequer olhou para o relógio. Nem naquele nem nos que se lhe seguiram.


Sophie Carquain
Cent histoires du soir
Paris, Ed. Marabout, 2000

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Autor do mês... Maio


Manuel Alegre


A 12 de Maio de 1936 nasce o poeta Manuel Alegre de Melo Duarte em Águeda. Fez os estudos secundários no Porto. Do Porto, passou para Coimbra, em cuja Universidade foi estudante de Direito, tendo uma grande actividade nas áreas da política, da cultura e do desporto. Destacado elemento dos movimentos estudantis, apoiou a candidatura de Humberto Delgado a presidente da República; foi um dos fundadores do Centro de Iniciação Teatral da Universidade de Coimbra (CITAC) e membro do Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC), foi ainda director do jornal A Briosa, redactor da revista Vértice e colaborador da Via Latina. Enquanto praticante de natação, representou a Académica.

Em 1962, foi mobilizado para Angola, tendo aí participado numa tentativa de revolta militar, pelo que esteve preso em Luanda. Libertado, foi desmobilizado e enviado para Coimbra em regime de residência fixa. Em 1964, exilou-se em Argel, onde viveu dez anos. Ali seria dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN), presidida por Humberto Delgado, e principal responsável e locutor da emissora de combate à ditadura. Após o 25 de Abril, regressou a Portugal, passando a dedicar-se à política. Fez parte do 1º Governo Constitucional e tem sido desde então deputado à Assembleia da República. É também membro do Conselho de Estado, do Conselho das Ordens Nacionais e do Conselho Social da Universidade de Coimbra.

Foi o primeiro português a receber o diploma de membro honorário do Conselho da Europa. Entre outras condecorações, recebeu a Grã Cruz da Ordem da Liberdade (Portugal), a Comenda da Ordem de Isabel a Católica (Espanha) e a Medalha de Mérito do Conselho da Europa.

Como poeta, começa a destacar-se nas colectâneas Poemas Livres (1963-1965), publicadas em Coimbra e com o «Cancioneiro Vértice». Mas o grande reconhecimento dos leitores e da crítica nasce com os seus dois volumes de poemas, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), logo apreendidos pelas autoridades, mas com grande circulação nos meios intelectuais. Começando por tomar como base temática a resistência ao regime, o exílio, a guerra de África, a poesia de Manuel Alegre evoluiria para um registo épico e lírico com uma escrita rítmica e melódica que pode ser recitada ou musicada. Daí ser tido como o poeta português mais musicado e cantado. Urbano Tavares Rodrigues afirmou: «Os dois grandes veios que alimentam a poesia de Manuel Alegre, o épico e o lírico, confluem numa irreprimível vocação órfica que dele faz o mais musical (e o mais cantável) dos poetas portugueses contemporâneos.»

Estreando-se na ficção com Jornada de África, em 1989, Manuel Alegre não deixa de arrastar para a prosa a sua vocação fundamental de poeta. «A poesia é a sua pátria», lembra Marie Claire Wromans, e confirma-o a prosa de A Terceira Rosa.

Manuel Alegre tem colaboração dispersa por muitos outros jornais e revistas culturais, de que destacamos: A Poesia Útil (Coimbra, 1962), Seara Nova, o suplemento do Diário Popular «Letras e Artes», Cadernos de Literatura (Coimbra, 1978-), Jornal de Poetas e Trovadores (Lisboa, 1980-) e JL: Jornal de Letras, Artes e Ideias. Está traduzido para alemão, francês, italiano, romeno e castelhano, e incluído em antologias portuguesas e estrangeiras.