segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Conheces o autor do mês...

Mário Zambujal (1936, - ) autor de ficção, não leva esta atividade muito a sério, apesar dos dificilmente ignoráveis êxitos. Considera, por exemplo, o seu primeiro livro, Crónica dos Bons Malandros, “um trabalho de jornal que por acaso é ficção”. Iniciou-se como jornalista profissional em A Bola, em 1961, e é apresentado como tal que, sem dúvida, melhor se sente. Costuma dizer que a história da sua vida se resume a anotar as etapas dos jornais por onde passou. E foram muitos. Se tinha vinte e cinco anos quando entrou para A Bola, sete anos mais tarde ingressou no Diário de Lisboa, que deixou no ano seguinte (1968), trocando-o pelo Record então dirigido por Artur Agostinho. Em 1970 entra para O Século, onde no 25 de Abril de 1974 era chefe da redação; manteve-se nestas funções de chefia até meados de 75, altura em que assumiu a direção do Mundo Desportivo (“fui-me embora para as Berlengas”, segundo as suas palavras). A convite de Vítor Cunha Rego, transitou para chefe de Redação do Diário de Notícias, após os acontecimentos do 25 de Novembro. O Sete de que foi o primeiro diretor, foi a experiência seguinte, e depois o trabalho na televisão, tendo integrado o quadro da RTP. Incursão muito notada igualmente na rádio, no programa “Pão com Manteiga”. Assume igualmente a coautoria de alguns textos de teatro de revista como “Não Batam Mais no Zézinho”, “Isto É Maria Vitória” OU “Toma Lá Revista”.
Quanto aos seus livros de ficção, “Crónica dos Bons Malandros” (1980), que seria objeto de adaptação cinematográfica, é um percurso trágico-burlesco pelo mundo da marginalidade lisboeta, pela precariedade quotidiana dos vigaristas de pacotilha que sonham com “o grande golpe” que os tire do pequeno submundo anónimo. Em “Histórias do Fim da Rua”, segundo livro de ficção editado três anos mais tarde, Mário Zambujal, entrelaça histórias que têm a ver com a Rua de Trás, em demolição, sacrificada a um “progresso” protagonizado por especuladores imobiliários e, simultaneamente, por um casal – Nídia e Sérgio -, perfis muito característicos de uma perfeita dissolução, tanto no que diz respeito a uma geografia urbana como a uma relação sentimental com dez anos de vida. O seu terceiro livro, publicado outros três anos mais tarde, intitula-se “À Noite Logo se Vê” e retomou o sucesso do primeiro, distanciando-se do relativo silêncio votado ao anterior. Quanto ao argumento, é exposto de rompante, logo na página 4: “ No tempo inteiro de quatro anos, não nasceu nenhuma criança, uma que fosse, menino ou menina, na aldeia do Roseiral” e Mino Miralva, narrador de muitas histórias, começa a investigar.

De resto, o autor continua a considerar-se como um jornalista que escreve para se divertir, com um humor infantil, matreiro, marcado por uma linguagem ágil e cheia de humor genuíno e fresco e uma prosa despretensiosa e criadora de personagens que só por si constituem todo um universo ficcional: “O Cacildo Tavares, sacrificado repórter da velha guarda”, ou o “imparável fura-vidas Jacinto Rebite” são exemplos que fazem do último romance de Mário Zambujal, como disse uma crítica conceituada, “a fantástica recuperação de um risco que andava por aí perdido”.

Fonte: www.portaldaleitura.com

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