Pégadas de gaivota
Era uma vez uma gaivota na praia. Sozinha. Não havia banhistas, porque ainda não era o tempo deles.
Nas praias desertas, antes do Verão, a areia muito lisa até parece passada a ferro. Sem uma única ruga. Sem um único sinal de vida.
Nisto pensava a gaivota, enquanto se entretinha, saltinho sobre saltinho, a imprimir na areia as suas pégadas de gaivota nova.
Três dedos espetados para a frente e zás! Eu estive aqui. E aqui. E aqui.
Atrás da gaivota, o rasto dos seus passos.
Mais logo, as ondas do mar, na maré cheia, apagariam a passagem da gaivota por aquela praia sem ninguém. Mas, até lá, muita coisa iria suceder.
Chegada à beira de um rochedo, a gaivota virou-se para trás e contemplou o caminho que fizera pela praia toda. Suspirou.
Pois é. As gaivotas também suspiram. Suspiram de tristeza, quando estão sós.
Virou-se para a frente, para continuar o seu passeio descuidado, quando sentiu um baque de susto. Não que tivesse visto um bicho, mas viu, na areia molhada, à sua frente, a marca de outras pégadas iguais às dela. Os mesmos três dedos espetados para a frente. Tal e qual.
Esvoaçou.
Mediu de cima o terreno em volta e foi então que deu com outra gaivota, aninhada atrás de uma rocha. Era uma gaivota fêmea. E ela, a gaivota da nossa história, uma gaivota macho.
Já não estava sozinha. Já não estavam sozinhas. Entraram à fala uma com a outra.
Falaram do mar, das ondas, dos peixes e da friagem da noite, quando, sem o calor de outras penas, se abrigavam numa fenda da falésia.
O resto não tem conto. Adivinha-se. Estavam feitas uma para a outra, como se costuma dizer.
Desconfio que, antes de chegar o Verão, outras patinhas novas, mais pequenas, vão povoar aquelas areias. Cada vez há mais gaivotas.
António Torrado in Histórias do Dia
Era uma vez uma gaivota na praia. Sozinha. Não havia banhistas, porque ainda não era o tempo deles.
Nas praias desertas, antes do Verão, a areia muito lisa até parece passada a ferro. Sem uma única ruga. Sem um único sinal de vida.
Nisto pensava a gaivota, enquanto se entretinha, saltinho sobre saltinho, a imprimir na areia as suas pégadas de gaivota nova.
Três dedos espetados para a frente e zás! Eu estive aqui. E aqui. E aqui.
Atrás da gaivota, o rasto dos seus passos.
Mais logo, as ondas do mar, na maré cheia, apagariam a passagem da gaivota por aquela praia sem ninguém. Mas, até lá, muita coisa iria suceder.
Chegada à beira de um rochedo, a gaivota virou-se para trás e contemplou o caminho que fizera pela praia toda. Suspirou.
Pois é. As gaivotas também suspiram. Suspiram de tristeza, quando estão sós.
Virou-se para a frente, para continuar o seu passeio descuidado, quando sentiu um baque de susto. Não que tivesse visto um bicho, mas viu, na areia molhada, à sua frente, a marca de outras pégadas iguais às dela. Os mesmos três dedos espetados para a frente. Tal e qual.
Esvoaçou.
Mediu de cima o terreno em volta e foi então que deu com outra gaivota, aninhada atrás de uma rocha. Era uma gaivota fêmea. E ela, a gaivota da nossa história, uma gaivota macho.
Já não estava sozinha. Já não estavam sozinhas. Entraram à fala uma com a outra.
Falaram do mar, das ondas, dos peixes e da friagem da noite, quando, sem o calor de outras penas, se abrigavam numa fenda da falésia.
O resto não tem conto. Adivinha-se. Estavam feitas uma para a outra, como se costuma dizer.
Desconfio que, antes de chegar o Verão, outras patinhas novas, mais pequenas, vão povoar aquelas areias. Cada vez há mais gaivotas.
António Torrado in Histórias do Dia
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