Mário Zambujal
(1936, - ) autor de ficção, não leva esta atividade muito a sério, apesar dos
dificilmente ignoráveis êxitos. Considera, por exemplo, o seu primeiro livro, Crónica dos Bons Malandros, “um trabalho
de jornal que por acaso é ficção”. Iniciou-se como jornalista profissional em A Bola, em 1961, e é apresentado como
tal que, sem dúvida, melhor se sente. Costuma dizer que a história da sua vida
se resume a anotar as etapas dos jornais por onde passou. E foram muitos. Se
tinha vinte e cinco anos quando entrou para A
Bola, sete anos mais tarde ingressou no Diário
de Lisboa, que deixou no ano seguinte (1968), trocando-o pelo Record então dirigido por Artur
Agostinho. Em 1970 entra para O Século,
onde no 25 de Abril de 1974 era chefe da redação; manteve-se nestas funções de
chefia até meados de 75, altura em que assumiu a direção do Mundo Desportivo (“fui-me embora para as Berlengas”, segundo as suas palavras). A convite de Vítor Cunha Rego, transitou
para chefe de Redação do Diário de
Notícias, após os acontecimentos do 25 de Novembro. O Sete de que foi o primeiro diretor, foi a experiência seguinte, e
depois o trabalho na televisão, tendo integrado o quadro da RTP. Incursão muito
notada igualmente na rádio, no programa “Pão com Manteiga”. Assume igualmente a
coautoria de alguns textos de teatro de revista como “Não Batam Mais no Zézinho”,
“Isto É Maria Vitória” OU “Toma Lá Revista”.
Quanto aos seus
livros de ficção, “Crónica dos Bons
Malandros” (1980), que seria objeto de adaptação cinematográfica, é um
percurso trágico-burlesco pelo mundo da marginalidade lisboeta, pela precariedade quotidiana dos vigaristas de pacotilha que sonham com “o grande
golpe” que os tire do pequeno submundo anónimo. Em “Histórias do Fim da Rua”, segundo livro de ficção editado três anos
mais tarde, Mário Zambujal, entrelaça histórias que têm a ver com a Rua de
Trás, em demolição, sacrificada a um “progresso” protagonizado por
especuladores imobiliários e, simultaneamente, por um casal – Nídia e Sérgio -,
perfis muito característicos de uma perfeita dissolução, tanto no que diz
respeito a uma geografia urbana como a uma relação sentimental com dez anos de
vida. O seu terceiro livro, publicado outros três anos mais tarde, intitula-se “À Noite Logo se Vê” e retomou o sucesso
do primeiro, distanciando-se do relativo silêncio votado ao anterior. Quanto ao
argumento, é exposto de rompante, logo na página 4: “ No tempo inteiro de
quatro anos, não nasceu nenhuma criança, uma que fosse, menino ou menina, na
aldeia do Roseiral” e Mino Miralva, narrador de muitas histórias, começa a
investigar.
De resto, o
autor continua a considerar-se como um jornalista que escreve para se divertir,
com um humor infantil, matreiro, marcado por uma linguagem ágil e cheia de
humor genuíno e fresco e uma prosa despretensiosa e criadora de personagens que
só por si constituem todo um universo ficcional: “O Cacildo Tavares,
sacrificado repórter da velha guarda”, ou o “imparável fura-vidas Jacinto
Rebite” são exemplos que fazem do último romance de Mário Zambujal, como disse
uma crítica conceituada, “a fantástica recuperação de um risco que andava por
aí perdido”.
Fonte: www.portaldaleitura.com
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