Em 1607, três
embarcações inglesas, financiadas pela London Virgínia Company, partem ao longo
do oceano atlântico rumo a novos territórios, na esperança de encontrarem
lendários tesouros e ouro. Ao desembarcar em James River, na Virgínia,
estabelecem a colónia de Jamestown. A maioria dos 103 colonos do grupo
original, eram aristocratas mal preparados para as condicionantes do Novo
Mundo, pelo que as condições de vida na colónia se degradam ao ritmo que se
desvanece a esperança de encontrar ouro...
Bem vindos ao blogue da Biblioteca da Escola Secundária António Inácio da Cruz em Grândola.
sexta-feira, 30 de maio de 2014
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Conheces o autor do mês...
Afonso
Cruz (Figueira da Foz, 1971) é um escritor, realizador de filmes de animação,
ilustrador e músico português. Estudou na Escola Secundária Artística António
Arroio, nas Belas Artes de Lisboa e no Instituto Superior de Artes Plásticas da
Madeira. Vive num monte alentejano perto de Casa Branca, no concelho de Sousel.
Vencedor do Prémio da União Europeia de Literatura 2012.
Trabalhou em cinema de animação,
em vários filmes e séries tanto de publicidade como de autor, de entre os quais
se de
staca a curta-metragem Dois Diários e um Azulejo, baseado na obra do poeta
português Mário de Sá Carneiro e realizado em conjunto com Luís Alvoeiro e
Jorge Margarido em 2002, que ganhou duas menções honrosas (Cinanima e Famafest)
e um prémio do público, e «O Desalmado», um episódio da série Histórias de
Molero (2003), uma adaptação de O que diz Molero de Dinis Machado.
Publicou várias ilustrações na
imprensa periódica, nomeadamente para a revista Rua Sésamo, em manuais
escolares, storyboards e publicidade. Ilustrou cerca de três dezenas de livros
para crianças com textos de José Jorge Letria, António Manuel Couto Viana,
Alice Vieira e António Mota. entre outros.
Afonso Cruz publicou, até à data,
treze livros de ficção: A Carne de Deus, em 2008, um thriller satírico e
psicadélico; Enciclopédia da Estória Universal, em 2009, um engenhoso e
divertido exercício borgesiano com o qual venceu o Grande Prémio de Conto
Camilo Castelo Branco e Os Livros que Devoraram o Meu Pai, em 2010, livro
infanto-juvenil vencedor do Prémio Literário Maria Rosa Colaço de 2009. A este
seguiram-se, também em 2010, A Boneca de Kokoschka - Prémio da União Europeia
para a Literatura - e A Contradição Humana, vencedor do Prémio Autores 2011
SPA/RTP, escolhido para a exposição White Ravens 2011, menção especial do
Prémio Nacional de Ilustração, Lista de Honra do IBBY (International Board on
Books for Young People) e Prémio Ler/Booktailors na categoria Melhor Ilustração
Original. Em 2011 publicou o livro O Pintor Debaixo do Lava-Loiças e em 2012
"Enciclopédia da Estória Universal - Recolha de Alexandria" e
"Jesus Cristo Bebia Cerveja" Prémio Time Out - Melhor Livro do Ano.
Em 2013 saíram os livros "Enciclopédia da Estória Universal - Arquivos de
Dresner", "O Livro do Ano", "O Cultivo de Flores de
Plástico", "Assim, Mas Sem Ser Assim" e "Para Onde Vão os
Guarda-Chuvas". Para além disso, colaborou, na edição portuguesa do
Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas
com o ficcional "Síndroma da Culpa Absoluta"; no livro Prazer da
Leitura com o conto O Cavaleiro Ainda Persegue/A Mesma Donzela; na novela policial
O Caso do Cadáver Esquisito; n' Antologia de Ficção Científica Fantasporto; na
antologia de contos de literatura fantástica Volluspa; no livro Histórias
Daninhas; no Isto Não É um Conto e "21 Cartas de Amor"; no livro
Micro-Enciclopédia; no romance colectivo A Misteriosa Mulher da Ópera. Assina
uma crónica mensal no Jornal de Letras, Artes e Ideias sob o título Paralaxe.
Faz parte da banda de blues/roots
The Soaked Lamb, com a qual gravou os álbuns Homemade Blues, em 2007, em 2010,
Hats and Chairs, e em 2012 "Evergreens", para os quais compôs vários
originais, escreveu letras, cantou e tocou guitarra, banjo, harmónica e
ukulele.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
Este mês podes ler...
Uma pequena aldeia alentejana transforma-se em
Jerusalém graças ao amor de uma rapariga pela sua avó, cujo maior desejo é
visitar a Terra Santa. Um professor paralelo a si mesmo, uma inglesa que dorme
dentro de uma baleia, uma rapariga que lê westerns e crê que a sua mãe foi
substituída pela própria Virgem Maria, são algumas das personagens que compõem
uma história comovente e irónica sobre a capacidade de transformação do ser
humano e sobre as coisas fundamentais da vida: o amor, o sacrifício, e a cerveja.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
CAMÕES, GRANDE CAMÕES, QUÃO SEMELHANTE
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar c’o sacrílego gigante:
Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:
Ludíbrio, como tu, da sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:
Modelo meu tu és... Mas, ó tristeza!. . .
Se te imito nos trances da ventura,
Não te imito nos dons da natureza.
Manuel Maria du
Bocage
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Do hotel para um campo de refugiados: a nova vida de um sabonete
— Já lavaste as mãos?
— Lavaste as mãos antes de começar a
comer?
— Lavaste as mãos quando vieste da
escola?
— E não te esqueças de usar o sabonete!
Quantas vezes não ouvimos as nossas mães
repetirem estas frases vezes sem conta?
Chegámos até a odiar o sabonete, que nos
atrasava para o lanche, com aquele bolo de que tanto gostávamos, ou nos fazia
perder tempo quando, ansiosos, só queríamos pegar no pão e começar a ler o
livro que tínhamos trazido da biblioteca ou que um colega nos emprestara. Ou
que nos picava nos olhos quando a mãe, zangada por não lavarmos a cara, no-la
segurava com firmeza e, com gestos decididos, nos esfregava a cara, as orelhas,
e o pescoço com o sabonete e a toalha molhada.
Mais tarde, era o cheiro do sabonete que
nos fazia lembrar os ralhos da mãe, o lanche engolido à pressa nas tardes
solarengas para não interromper demasiado tempo do jogo de futebol com os
amigos. Para não falar no cheiro da mãe, da avó, da tia que nos visitava sempre
pela Páscoa. E o cheiro a lavado, depois do banho? E quem não se lembra dos que
eram guardados nas gavetas e que perfumavam os lençóis e a roupa interior?
O sabonete, odiado e amado, entrou de
tal forma no nosso quotidiano que passou a banal, e do qual quase nem nos
apercebemos. O ato de lavar as mãos está automatizado: abrir a torneira, molhar
o sabonete, esfregar, secar. Já nem sabemos porque lavamos as mãos.
Mas… será assim em todo o mundo? Infelizmente,
não é. Nos países menos desenvolvidos, o sabonete é um bem de luxo e o ato de
lavar as mãos, que pode salvar tantas vidas, principalmente de crianças, não
está ao alcance de todos.
♣♣♣♣
O ato de lavar as mãos, que até teve
direito a dia mundial, 15 de Outubro, pode salvar a vida de milhares de
crianças e adultos. Em países menos desenvolvidos de África, Ásia e América
Latina, onde nem toda a gente tem acesso a sabão, a taxa de mortalidade por
diarreia, febre tifóide, cólera, infeções respiratórias é elevadíssima. Em
situações de catástrofes naturais ou em campos de refugiados, onde as condições
de higiene são deficientes, as condições para a propagação de vírus aumenta
perigosamente. Inacreditavelmente, a lavagem das mãos antes da preparação e
ingestão de alimentos, após o uso dos sanitários, e, muito importante, durante
o parto, reduz significativamente a taxa de mortalidade e a propagação dos
vírus.
♣♣♣♣
Que o diga Derreck Kayongo, que, pela
janela do jipe, vai olhando a paisagem do Quénia que desliza à sua volta.
Nascido no Uganda e com uma infância agitada, é com emoção que acompanha
pessoalmente a entrega de uma carga peculiar. O seu e os jipes que o seguem
estão carregados com cinco mil barras de sabonete que irão ser entregues em
diversos orfanatos e organizações não-governamentais que trabalham com
refugiados. Sabonete que provavelmente vai salvar da morte centenas de pessoas.
Derreck mal pode esperar pela primeira
paragem. A cabeça começa a encher-se de recordações da infância e os olhos de
lágrimas. Uma vida e uma infância estável no Uganda abruptamente interrompida
pela tomada de poder do ditador Idi Amim e o começo da guerra com a Tanzânia,
que obrigou a família a refugiar-se no Quénia durante alguns anos. Primeiro a
mãe e as irmãs e, cerca de um ano mais tarde, o resto da família abandona a
casa e o país. Foi o início de uma vida difícil. Um novo país, novos costumes,
uma nova língua. Derreck, que até ali só conhecia as preocupações típicas de
uma criança saudável, deparou-se repentinamente com uma realidade assustadora:
a de milhares de pessoas que não têm nada, desde casa, comida, sabão para
tomar banho. A sua família era mais uma das centenas de refugiados.
Nestas circunstâncias, as condições de
higiene têm um papel fundamental. Dadas as condições de vida, a má nutrição e a
falta de higiene, as epidemias e as doenças propagam-se facilmente e a morte é
inevitável. Conscientes disso, cada sabonete recebido pela família era
religiosamente guardado após ser utilizado.
Derreck não esquece a tristeza que
sentiu quando soube que o seu amigo Balondemu tinha morrido. Na sua cabeça
ressoam as lágrimas silenciosas das mães que viam os filhos morrer de cólera ou
febre tifóide. A mãe dele obrigava os filhos a lavar as mãos com frequência,
mas nem todas as pessoas podiam fazê-lo e nem todas sabiam que aquele gesto
podia salvá-las. Aluno aplicado, teve a sorte de ter acesso à escolaridade.
Quando terminou a universidade no Quénia partiu para os Estados Unidos da
América, onde a primeira noite contribuiu decididamente para fortalecer a sua
vontade de ajudar a lutar contra a pobreza.
No quarto do hotel deparou com três
sabonetes: um para a cara, outro para as mãos, e um último para o corpo.
Perplexo, Derreck desembrulhou o primeiro e cheirou-o. Resolveu guardar os
outros na bagagem. No dia seguinte, ao voltar ao quarto, encontrou mais três
sabonetes, que rapidamente se juntaram aos que estavam na mala. E assim
sucessivamente. Ao fim de alguns dias, com a consciência pesada, desceu à
receção.
— Venho devolver os sabonetes. Lamento,
mas não tenho dinheiro para os pagar.
— Não se preocupe — tranquilizou-o o
rececionista. — Todos os hóspedes têm direito a três sabonetes por dia. E podem
levá-los para casa. Aliás, é o que muitos fazem.
Derreck não podia crer no que estava a
ouvir.
— E… o que fazem aos que sobram? —
perguntou atónito.
— Por razões de higiene vão para o lixo.
Ficou perplexo. Como era possível deitar
fora uma preciosidade daquelas?
De volta ao quarto, pegou num pequeno
sabonete e ficou a pensar nas duas realidades tão distintas que acabava de
confrontar: no Uganda, onde havia um sabonete por casa, e que era usado por
todos, até pelas visitas. Isso, quando havia possibilidades financeiras para o
comprar. Num país onde os salários são tão baixos, o preço do sabonete era
elevado e, comprá-lo, um luxo, que podia muito bem ser adiado. E ali estava ele
num país onde havia mais do que um sabonete por pessoa, até para as diferentes
partes do corpo, que ia para o lixo no dia seguinte. Os números começaram a
galopar na sua cabeça. Quantos sabonetes eram desperdiçados ao fim do dia? Só
naquele hotel? E em todos os hotéis dos EUA… da Europa… do mundo?
Lembrou-se de todas as crianças que
conheceu enquanto viveu no Quénia e de muitas outras que viviam nas mesmas
condições e cujas vidas podiam ser salvas se tivessem um sabonete na mão.
Aquele resto de sabonete. De repente, uma cadeia de palavras apareceu-lhe em
mente: Hotel-sabonete-higiene-refugiados. Telefonou ao pai para lhe contar o
que acabara de acontecer. E foi com a ajuda deste que começou o seu projeto Global
Soap Project, iniciado anos mais tarde, em 2009, e que o levava agora
naquela viagem de regresso ao Quénia.
A ideia de Derreck fora reutilizar os
restos de sabonetes que só são usado uma vez, e simplesmente derretê-los,
esterilizá-los, convertê-los numa nova barra e fazê-los chegar às populações
necessitadas – sem custos para estas.
Começou por apresentar a sua ideia aos
hotéis, o que levou meses. Foram raras as recusas. Usando os conhecimentos do
pai, que trabalhou numa fábrica de sabão no Uganda, começou por fazer este
trabalho na cave da sua casa, em Atlanta. Comprou uma pequena máquina de fazer
sabão, e com a ajuda da família, depois de separados por proveniência, os
sabonetes eram lavados para retirar as impurezas, derretidos e transformados em
novas barras.
Pouco a pouco, o projeto foi crescendo e
ganhando dimensão. A cave tornou-se demasiado pequena para tanto trabalho. E o
número de doadores e de voluntários foi também aumentando.
Derreck consegue fazer chegar os seus
sabonetes onde eles são precisos, contactando diretamente as instituições no
terreno; da Ásia à América Latina, passando por África, já distribuiu mais de
cem mil sabonetes em mais de dez países. Quando saiu o primeiro carregamento
para o Quénia, Derreck fez questão de acompanhá-lo pessoalmente. Quer ser ele a
entregar os sabonetes às crianças que vivem como ele viveu.
♣♣♣♣
— Derreck, estamos quase a chegar.
O motorista arranca-o das suas
recordações.
— Preparado?
Derreck há muito que sonha com este
momento mas nunca conseguiu preparar-se realmente. A emoção de voltar àquele
país que o acolheu durante a guerra, de ver as crianças sorridentes que os
esperam e de saber que vão beneficiar com aquela carga, fez com que chorasse o
caminho todo.
E ali estava ele, a distribuir
sabonetes; a distribuir vida e esperança àquelas crianças que agradecem com um
sorriso radiante, assim que desenterram o nariz da barra branca de sabonete que
lhes foi depositada nas mãos. Depois pedem-lhe que lhes conte a história dos sabonetes. Já a contou milhares de vezes mas nunca se cansa. Ele,
que foi uma daquelas crianças, teve uma ideia e concretizou-a. Graças ao seu
passado, que não quis esquecer, e à sua determinação.
Por vezes, são as coisas mais simples,
aquelas a que raramente damos valor, que podem fazer a diferença. Como no caso
de um banal sabonete usado que ia para o lixo.
I. Birnbaum
quinta-feira, 3 de abril de 2014
Leitura a duas vozes
Decorreu no dia 2 de abril pelas 21:00 horas na nossa biblioteca uma sessão de leitura a duas vozes subordinada ao tema " À volta da Língua Portuguesa". Foi um serão agradável onde se leram diversas histórias e trechos de autores portugueses.
sexta-feira, 28 de março de 2014
Este mês podes ouvir...
Os Clã
formaram-se em Novembro de 1992 pela mão de Hélder Gonçalves (baixo piccolo e
voz) que convoca, para dar corpo ao seu projeto, Miguel Ferreira (teclados e
voz), Pedro Biscaia (teclados), Pedro Rito (baixo), Fernando Gonçalves
(bateria) e Manuela Azevedo (voz). Passaram o ano seguinte a ensaiar e a
preparar canções.
Em 1994
começaram com as apresentações ao vivo e em 1995 assinaram um contrato
discográfico com a EMI-Valentim de Carvalho iniciando nesse mesmo ano as
gravações do seu disco de estreia.
O álbum de
estreia, "LusoQUALQUERcoisa", é editado no dia 14 de Fevereiro de
1996, contando o alinhamento deste primeiro trabalho com 13 canções originais e
ainda versões de "Give Peace a Chance" de John Lennon e de
"Donna Lee" de Charlie Parker. São extraídos desse álbum os singles
"Pois É" e "Novas Babilónias".
Em Abril de
1997 realizam no auditório da Antena 3 um espetáculo constituído por
"versões acústicas" das canções do CD "LusoQUALQUERcoisa".
Neste concerto contam com a participação da cantora Maria João na interpretação
de uma versão do tema "Pois É".
O segundo
álbum, "Kazoo", é gravado rapidamente em três semanas durante 1997 e
editado a 15 de Setembro desse ano. De novo com a produção de Mário Barreiros e
Carlos Tê (desta vez responsável por todas as letras), este trabalho apresenta
doze novas canções e uma versão de "I'm Free" de Mick Jagger e Keith
Richards. Deste álbum foram escolhidos os singles "GTI (Gentle, Tall &
Intelligent)", "Problema de Expressão" e "Sem Freio".
Com "Kazoo", os Clã iniciam uma digressão de mais de dois anos, com
mais de 100 espetáculos em Portugal, com direito de passagem por Macau e
Brasil.
O projeto
"Afinidades", espetáculo encomendado pela Expo'98 e que conta com a
participação de Sérgio Godinho, estreia em Setembro de 1998. Em Janeiro de 1999
é apresentado no Porto, em três noites esgotadas no teatro Rivoli.
Em 1999
participam no disco de homenagem aos Xutos & Pontapés - "XX Anos XX
Bandas", com a versão do tema "Conta-me Histórias", escolhido
como primeiro single desta coletânea.
"Lustro"
é editado no dia 22 de Maio de 2000. Este trabalho traz como novidade a
colaboração de letristas como Sérgio Godinho, Manel Cruz (dos Ornatos Violeta)
e do brasileiro Arnaldo Antunes bem como a continuação de Carlos Tê na maioria
das letras. "Dançar na Corda Bamba", o primeiro single extraído deste
disco, é um grande sucesso deste disco. Se "Kazoo" havia confirmado a
promessa "Lustro" garantiu o reconhecimento da banda por parte da
crítica e do público. Em Setembro do mesmo ano "O Sopro do Coração" é
escolhido como segundo single do álbum.
Participam
em "Ar de Rock - 20 anos depois", disco de homenagem a Rui Veloso e
ao disco "Ar de Rock", com uma recriação do tema "Bairro do
Oriente".
No dia 4 de
Dezembro os Clã dão o seu primeiro concerto, em nome próprio, na Aula Magna que
conta com a participação especial de Manuel Cruz, Nuno Rafael, Maria João &
Mário Laginha e Adolfo Luxúria Canibal (dos Mão Morta).
Em
Dezembro, "Lustro" alcança o galardão de Disco de Ouro.
"H2Omem", com letra de Arnaldo Antunes, é lançado como terceiro
single.
Participam
em Março de 2001 nos espetáculos "Come Together" de homenagem aos
Beatles. "A Hard Days Night,
"Lucy in the Sky With Diamonds" e "Everybody's Got Something to
Hide" são os temas interpretados pelos Clã.
No dia 13
de Maio do mesmo ano deslocam-se a Cannes para participar no espetáculo que
decorreu após a projeção oficial do filme "Vou para Casa" de Manoel
de Oliveira.
O grupo
participa na edição de 2001 do Festival de Vilar de Mouros.
No dia 30
de Outubro é estreado no Teatro Rivoli, por ocasião do Porto 2001, o
filme-concerto "Nosferatu" com banda sonora do grupo.
Em Dezembro
de 2001 é editado o álbum "Afinidades" gravado nos concertos de 1999
no Teatro Rivoli. O disco atinge rapidamente o galardão de disco de ouro.
O álbum
"Lustro" é editado em França a 22 de Janeiro de 2002, seguido de uma
apresentação da banda na Sala "Le Divan du Monde", em Paris, a
convite da Associação Cap Magellan. A 27 de Junho, os Clã apresentaram-se em
Bordéus, inseridos na programação do Festival "Bordeaux Fête Le Vin"
e no dia seguinte, na Sala Razzmatazz, em Barcelona.
Já em 2003,
mais precisamente a 27 de Fevereiro, o grupo apresentou em Lisboa, no Fórum
Lisboa, o filme-concerto "Música Para Nosferatu", perante uma sala
esgotada!
Participam
entretanto no disco "Irmão do Meio" de Sérgio Godinho, editado em
Abril, com uma nova versão de "Dancemos No Mundo".
O disco
"Rosa Carne" foi editado em 3 de Maio de 2004. O primeiro single é o
tema "Competência Para Amar" com letra de Carlos Tê. As músicas do
disco são de Hélder Gonçalves que coproduziu o disco com Mário Barreiros e
ainda assina a letra de "Pas de Deux". As outras letras são de Carlos
Tê, Sérgio Godinho, Arnaldo Antunes, Adolfo Luxúria Canibal, Regina Guimarães e
John Ulhoa (elemento da banda brasileira Pato Fu).
No dia 26
de Novembro o grupo apresenta o disco "Rosa Carne" no Centro Cultural
Olga Cadaval, em Sintra, com a participação de Arnaldo Antunes e Paulo Furtado.
O CD-duplo
"Vivo" é editado em Outubro de 2005. O disco inclui gravações
efetuadas nos concertos da Aula Magna (em 4 de Dezembro de 2000), Hard Club (28
de Fevereiro e 1 de Março de 2001), Queima das Fitas do Porto (6 de Abril de
2001) e Centro Cultural Olga Cadaval (26 de Novembro de 2004). Foi lançada ainda
uma edição limitada com DVD bónus com filmagens retiradas da videoteca
"particular" do grupo.
O primeiro
DVD do grupo intitulado "Gordo Segredo", editado em Outubro, inclui a
gravação do concerto realizado no Grande Auditório do Centro Cultural Olga Cadaval,
em Sintra.
Em 2006 é
editado o livro "Curioso Clã" com as letras do grupo e texto do
jornalista Nuno Galopim. Neste ano o grupo atua em França, Brasil, Espanha e
Macau. O grupo faz uma versão do tema "Tortura de Amor" do brasileiro
Waldick Soriano para a compilação "Eu Não Sou Cachorro Mesmo". Ainda
em 2006 foi publicado pela Objecto Cardíaco o livro «As Letras como Poesia» de
Vitorino Almeida Ventura, que versa sobre as letras de Carlos Tê para os
primeiros três álbuns dos Clã, reeditado em 2009 pela Afrontamento.
O grupo
regressa em 2007 com o álbum "Cintura", com edição a 1 de Outubro. O
primeiro single é "Tira a Teima" com a colaboração de Paulo Furtado.
Dois anos
após o lançamento de "Cintura", e depois da digressão nacional, a
banda apostou na internacionalização. Estiveram presentes no festival South by
Southwest, no Texas. Também em 2009, o "Cintura" foi lançado em
Espanha com uma adaptação da música "Sexto Andar" para espanhol:
"Sexto Piso". Nesse mesmo ano, o jornal espanhol El Mundo escreveu:
"'Cintura' es un álbum luminoso, alegre, transmisor de buenas sensaciones
desde los primeros acordes. Será el más declaradamente pop de un grupo que ya
ha experimentado demasiadas sonoridades como para que sea encasillado en un
estilo."(...) 1 Realizaram também em Espanha vários espetáculos. No final
do ano, deram ainda 3 concertos em São Paulo, no SESC Pompeia, com convidados
especiais: Zeca Baleiro, Arnaldo Antunes e Fernanda Takai e John Ulhoa (dos
Pato Fu). Estes espetáculos surgiram na sequência da edição da coletânea
"Catalogue Raisonné", lançada no Brasil a 16 de Junho de 2009.
Os Clã
voltam aos discos e aos concertos com um projeto dedicado aos mais novos: Disco
Voador.
O Disco
Voador foi considerado o 2.º melhor álbum nacional do ano pela revista Blitz.
segunda-feira, 24 de março de 2014
Este mês podes ver...
Em
1907, Sigmund Freud (Viggo Mortensen) e Carl Jung (Michael Fassbender) iniciam
uma parceria que iria mudar o rumo das ciências da mente assim como o das suas
próprias vidas. Seis anos depois, tudo isso se altera e eles tornam-se
antagónicos, tanto no que diz respeito às suas considerações científicas como
no que se refere às questões de foro íntimo. Entre os dois, para além das
divergências de pensamento, surge Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma jovem
russa de 18 anos internada no Hospital Psiquiátrico de Burgholzli. Com
diagnóstico de psicose histérica e tratada através dos recentes métodos
psicanalíticos, ela torna-se paciente e amante de Jung e, mais tarde, em colega
e confidente de Freud. Isto, antes de se tornar numa psicanalista de renome.
Realizado por David Cronenberg
("eXistenZ", "Crash"), "Um Método Perigoso" é
baseado na peça "The Talking Cure", do dramaturgo e argumentista
inglês, nascido nos Açores, Christopher Hampton, inspirada na obra de John
Kerr.
sexta-feira, 21 de março de 2014
Conheces o autor do mês...
Markus
Zusak nasceu em Sydney, Austrália. A sua mãe, Lisa, é alemã, e o seu pai,
Helmut, é austríaco. Eles mudaram-se para a Austrália no final de 1950.
O mais novo de quatro filhos de
um austríaco e uma alemã, Markus cresceu ouvindo histórias a respeito da
Alemanha Nazi, sobre o bombardeio de Munique e sobre judeus marchando pela
pequena cidade alemã da sua mãe. Ele sempre soube que essa era uma história que
ele queria contar.
"Nós temos essas imagens das marchas em fila de garotos e dos 'Heil Hitlers' e essa ideia de que todos na Alemanha estavam juntos nisso. Mas ainda havia crianças rebeldes e pessoas que não seguiam as regras e pessoas que esconderam judeus e outras pessoas em suas casas. Então eis outro lado da Alemanha Nazi", disse Zusak numa entrevista.
"Nós temos essas imagens das marchas em fila de garotos e dos 'Heil Hitlers' e essa ideia de que todos na Alemanha estavam juntos nisso. Mas ainda havia crianças rebeldes e pessoas que não seguiam as regras e pessoas que esconderam judeus e outras pessoas em suas casas. Então eis outro lado da Alemanha Nazi", disse Zusak numa entrevista.
Zusak é o autor de cinco livros.
The Underdog (não publicado em português), o seu primeiro livro, levou sete
anos para ser publicado. O mensageiro, publicado em 2002, venceu o prémio de
livro do ano no CBC (prémio australiano de livros). Em 2005, aos 30 anos, Zusak
já se afirmou como um dos mais inovadores e poéticos romancistas dos dias de
hoje. Com a publicação de "A Rapariga que Roubava Livros", ele foi
batizado como um "fenómeno literário" por críticos australianos e
norte-americanos. Atualmente, já foi traduzido em mais de 30 idiomas. Também
recebeu prémios na Austrália e pelo mundo. A
rapariga que roubava livros manteve-se no primeiro lugar de vendas no site da Amazon.com, na lista dos mais vendidos do The New York Times, e
também em países como o Brasil, Irlanda e Taiwan. Ficou entre os 5 mais
vendidos no Reino Unido (UK), Israel, Espanha e Coreia do Sul. Outros países
ainda esperam por seu lançamento. O Livro está sendo adaptado para o cinema,
com estreia prevista para 2014.
Markus Zusak vive em Sydney com a
sua esposa e filha. Gosta de surfar e assistir filmes no seu tempo livre.
quinta-feira, 20 de março de 2014
segunda-feira, 17 de março de 2014
Este mês podes ler...
A trajetória de Liesel Meminger é contada por uma narradora
mórbida, surpreendentemente simpática. Ao perceber que a pequena ladra de
livros lhe escapa, a Morte afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a 1943. Traços de uma
sobrevivente: a mãe comunista, perseguida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão
para o subúrbio pobre de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe a adotá-los
por dinheiro. O garoto morre no trajeto e é enterrado por um coveiro que deixa
cair um livro na neve. É o primeiro de uma série que a menina vai surripiar ao
longo dos anos. O único vínculo com a família é esta obra, que ela ainda não
sabe ler.
Assombrada por pesadelos, ela compensa o medo e a solidão das noites com a conivência do pai adotivo, um pintor de parede bonachão que lhe dá lições de leitura. Alfabetizada sob vistas grossas da madrasta, Liesel canaliza urgências para a literatura. Em tempos de livros incendiados, ela os furta, ou os lê na biblioteca do presidente da câmara da cidade.
A vida ao redor é a pseudo-realidade criada em torno do culto a Hitler na Segunda Guerra. Ela assiste à eufórica celebração do aniversário do Führer pela vizinhança. Teme a dona da loja da esquina, colaboradora do Terceiro Reich. Faz amizade com um garoto obrigado a integrar a Juventude Hitlerista. E ajuda o pai a esconder no porão um judeu que escreve livros artesanais para contar a sua parte naquela História. A Morte, perplexa diante da violência humana, dá um tom leve e divertido à narrativa deste duro confronto entre a infância perdida e a crueldade do mundo adulto, um sucesso absoluto - e raro - de crítica e público.
Assombrada por pesadelos, ela compensa o medo e a solidão das noites com a conivência do pai adotivo, um pintor de parede bonachão que lhe dá lições de leitura. Alfabetizada sob vistas grossas da madrasta, Liesel canaliza urgências para a literatura. Em tempos de livros incendiados, ela os furta, ou os lê na biblioteca do presidente da câmara da cidade.
A vida ao redor é a pseudo-realidade criada em torno do culto a Hitler na Segunda Guerra. Ela assiste à eufórica celebração do aniversário do Führer pela vizinhança. Teme a dona da loja da esquina, colaboradora do Terceiro Reich. Faz amizade com um garoto obrigado a integrar a Juventude Hitlerista. E ajuda o pai a esconder no porão um judeu que escreve livros artesanais para contar a sua parte naquela História. A Morte, perplexa diante da violência humana, dá um tom leve e divertido à narrativa deste duro confronto entre a infância perdida e a crueldade do mundo adulto, um sucesso absoluto - e raro - de crítica e público.
sexta-feira, 14 de março de 2014
Não há estranhos para mim
― É o último
bocadinho de terra que possuo, desde que vim viver para a cidade ― disse-me,
enquanto cumprimentava toda a gente.
― Avô, como
fazes para conhecer tanta gente? ― perguntei-lhe, enquanto corria para o
acompanhar.
Ele parou para
esperar por mim.
― Não os
conheço pelo nome, conheço-os pelo coração. Sabes, querida, não há
estranhos para mim.
― Porquê? ―
perguntei, dando-lhe a mão.
Sorriu
alegremente e respondeu:
― Porque eu e o
meu coração somos livres.
Depois de
caminharmos um pouco, disse:
— Sabias que,
nos tempos tristes da escravatura, eu costumava andar com sementes de macieira
no bolso, e acreditava que, quando fosse livre, haveria de as plantar no meu
próprio pedacinho de terra?
― Não, não
sabia.
― Um dia,
dei-me conta de que isso só aconteceria quando nós mesmos lutássemos pela
liberdade. Então, uma noite, fugimos.
― Quem é “nós”?
― Eu, a tua avó
Polly e a tua mãe, que era bebé na altura ― respondeu, acariciando os meus
caracóis. ― Tínhamos medo, claro, mas fomos cuidadosos.
Parou de falar,
enquanto relembrava aqueles tempos…
― Quando
chegámos ao Norte, já tínhamos passado por muitos estranhos e por muitos
perigos. Estávamos junto ao rio Ohio e éramos quase livres, quando nos demos
conta de que a fome e o cansaço eram demasiado grandes para continuarmos a
andar. Então, escondemo-nos num celeiro ali perto. Dormimos toda a noite, como
há muito não fazíamos. De madrugada, um homem veio mungir as vacas e a nossa
bebé chorou. Ficámos petrificados. O nosso desespero era tanto que nos
sentíamos capazes de atravessar o rio a nado, só para sermos livres! Nunca mais
voltaríamos para trás!
Passados todos
estes anos, o meu avô ainda tremia só de pensar naqueles tempos. Peguei-lhe na
mão com força.
― O homem
percebeu que não estava sozinho. Mas não olhou para a nossa cor; olhou para a
nossa aflição. Era branco, mas ajudou-nos. Nunca me perguntou o nome, embora me
dissesse o dele. Chamava-se James Stanton e era membro do Caminho-de-Ferro
Clandestino.
― Oh! ―
exclamei. ― Aquelas pessoas que ajudavam os escravos a viajar para o Norte?
― Aqueles que
nos ajudaram quando mais precisávamos. James e a mulher, Sarah, não viram na
tua mãe uma menina negra, apenas um bebé com fome. Deram-nos de comer e
ajudaram-nos a atravessar o rio na noite seguinte.
― Isso é que
foi sorte, avô! ― alegrei-me, agarrando-lhe a mão com força.
― Não sei se
foi sorte, querida. Tínhamos de confiar em Deus. Tínhamos tomado a resolução
correcta e nunca nos faltou a ajuda. E conseguimos. Sei o que é precisar de
ajuda e recebê-la. Por mim, nenhum estranho ficará caído no chão sem que eu lhe
estenda a mão.
Caminhámos em
silêncio e o ar primaveril trazia até nós o cheiro fresco e doce das macieiras
em flor.
― Quando
chegámos ao Norte, a tua avó e eu trabalhámos arduamente para quem nos quisesse
contratar. Arámos terra, apanhámos fruta, mungimos vacas, cosemos pão e
ferrámos cavalos até termos dinheiro suficiente para comprarmos um pedaço de
terra. Este!
E mostrou-me um
belo pomar, cheio de macieiras em flor.
― Lembras-te
das sementes com que eu andava sempre no bolso? Peguei nelas e plantei-as no
nosso pedacinho de terra. De cada vez que plantava uma, lembrava-me de uma
pessoa que me tinha ajudado. Olha para todas estas flores!
O meu avô tirou
uma maçã de cada bolso.
― Essas vieram
da tua cave, avô?
― Vieram.
Guardei-as para as comermos juntos.
Sentámo-nos a
comer.
O meu avô
sorriu, comovido:
― Podes fazê-lo
agora mesmo.
Plantei as
sementes da maçã que comera. Enquanto isso, o meu avô observava os meus gestos,
relembrando, sem dúvida, o que fizera muito anos atrás.
― Não me
esquecerei do que fizeste hoje ― disse o meu avô, levando a mão ao peito.
― E eu não
esquecerei o que me contaste, avô.
E nunca
esqueci.
― Então agora
percebes por que razão não há estranhos para mim ― disse o avô,
com uma alegria imensa estampada no rosto, enquanto acenava para o céu.
Ann Grifalconi; Jerry Pinkney
Ain’t nobody a stranger to me
New York, Hyperion Books for Children, 2007
(Tradução e adaptação)
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