segunda-feira, 20 de junho de 2011

O peixinho que descobriu o mar

Cristóbal nasceu num aquário. O mundo dele resumia-se a um pouco de água entre quatro paredes de vidro. Isso, alguma areia, algas, pedras de diversos tamanhos, a miniatura em madeira de uma caravela naufragada. Ah! E trinta e sete outros peixinhos, quase todos irmãos de Cristóbal, ou primos, tios, parentes próximos. Havia ainda uma velha tartaruga, chamada Alice, que já vivia no aquário quando os avós de Cristóbal nasceram. Os peixes acreditavam que Alice vivia no aquário desde a criação do Universo e ela deixava que eles acreditassem naquilo.
Às vezes os peixes mais velhos contavam histórias que tinham escutado aos seus avós. Diziam que, para além das paredes do aquário, longe dali, havia água, tanta água que um peixe podia passar a vida inteira a nadar, sempre em linha recta, sem nunca bater de encontro a um vidro. A essa água imensa, onde tinham nascido os primeiros peixes, chamava-se Mar.
Os peixes falavam do Mar como quem fala de um sonho. Cristóbal tantas vezes escutou aquela história que um dia decidiu perguntar a Alice. A tartaruga era velhíssima, devia saber, tinha de saber. Encontrou-a a tomar sol em cima de uma pedra. Cristóbal prendeu a respiração, ergueu a cabeça acima da água, e fez-lhe a pergunta. Alice torceu a boca numa careta de troça:
- Disparate: o Mar não existe! Não existe nada para além daquelas quatro paredes de vidro. O universo inteiro somos nós.
Cristóbal foi-se embora pensativo. Sempre que ouvia falar no mar o aquário parecia-lhe mais pequeno. Não achava possível que os peixes, seus avós, tendo vivido sempre dentro de um aquário, tivessem conseguido inventar uma coisa tão grande como o Mar. Ele tinha de saber a verdade. Ele queria saltar as paredes de vidro e ir à procura do Mar. Os outros peixinhos não compreendiam a angústia de Cristóbal:
- Não estás bem aqui? – perguntavam-lhe -, não tens tido tudo o que precisas?
Cristóbal olhava para eles, aflito, incapaz de explicar aquela vontade de partir que sentia crescer, todos os dias, dentro do seu coração e o empurrava contra as paredes do aquário, tentando espreitar, para além delas, um outro mundo. O que via, porém, eram os seus próprios olhos reflectidos no vidro gelado.
Uma manhã, muito cedo, ainda todos os peixes dormiam, Cristóbal encheu-se de coragem, tomou balanço, e saltou. Percebeu imediatamente que o mundo não terminava no aquário. Percebeu também, assustadíssimo, que o resto do mundo era um lugar tão seco quanto a pedra onde Alice costumava descansar. Percebeu isso tarde demais.
Estava estendido num chão de madeira e não conseguia respirar. Foi então que viu o gato. Ele não sabia o que era um gato. Nunca tinha visto nenhum. O gato, no entanto, sabia o que era um peixe. Os peixes, na opinião do gato, eram comida. Cristóbal viu o gato e gritou:
- Ajuda-me! Vou morrer!...
- Pois vais – disse o gato, que aliás, não era um gato, era uma gata, e por sinal lindíssima -, eu vou-te comer.
Cristóbal conseguia ver o aquário e do lado de lá do vidro os outros peixes. Mas eles não o podiam ver.
- Não me comas – pediu -, eu quero ver o Mar.
A gata olhou para ele admirada:
- O Mar? Pois tu nunca viste o Mar?
Cristóbal, com dificuldade, porque fora de água não conseguia respirar, contou-lhe a sua história. Verónica – era assim que se chamava a gata -, ficou com pena dele. Agarrou-o com a boca, cuidadosamente, para não o magoar, e colocou-o numa tigela com água.
- Vou-te ajudar –disse-lhe -, porque nunca conheci ninguém tão corajoso como tu.
Nessa tarde a gatinha saiu pelos telhados à procura de Nicolau, o albatroz, um pássaro enorme, bico largo e fundo, capaz de transportar lá dentro uma enorme quantidade de peixes. Nicolau, velho amigo, recebeu-a com alegria. Verónica contou-lhe a história de Cristóbal e pediu-lhe para levar o peixinho até ao mar. O albatroz achou a ideia um pouco estranha: afinal ele tirava os peixes do mar para os comer. Mas quando Verónica o apresentou a Cristóbal depressa se convenceu. Colocou então o peixinho dentro do bico, com uma larga porção de água, para que ele não sentisse dificuldades em respirar, e levantou voo.
Voavam há quase uma hora quando Nicolau abriu o bico e disse a Cristóbal para espreitar. Cristóbal ergueu a cabeça e o que viu deixou-o mudo de espanto. O Mar brilhava imenso à sua frente. Era muita água. Havia muitíssimo mais água ali do que dentro do seu aquário, muito, muito mais, muito mais do que ele se tinha alguma vez atrevido a imaginar. Nicolau abriu as grandes asas e começou a descer em direcção ao imenso azul, lá em baixo, ao salgado rumor das ondas. Gritou:
- Adeus, amigo. Boa sorte!
Sacudiu o bico e soltou Cristóbal! O peixinho olhou para cima, antes de mergulhar nas águas livres do Mar, e ainda o viu agitando as asas, adeus, adeus, e desaparecer entre as nuvens altas.
Longe dali, Verónica, a gata, pensava em Cristóbal. A partir daquela data ela nunca mais foi capaz de comer peixe. Coitada, hoje, só come vegetais.

  
José Eduardo Agualusa

terça-feira, 14 de junho de 2011

Este mês sugerimos o filme...

A ODISSEIA (The Odyssey, EUA 1997)

DIREÇÃO: Andrei Konchalovsky
ELENCO: Isabella Rosselini, Armand Assante, Eric Roberts, Greta Scacchi, Geraldine Chaplin, Christopher Lee, Irene Papas. 150 min, Alpha Filmes.

RESUMO
Francis Ford Coppola comandou esta megaprodução de 40 milhões de dólares, com efeitos especiais grandiosos, retratando a aventura excitante de Ulisses herói grego, após a Guerra de Tróia. 
Uma adaptação do poema clássico A Odisseia, atribuído a Homero, onde Odisseu (Ulisses) enfrenta a fúria dos deuses, perigosos inimigos e monstros mitológicos, demonstrando bravura e resistência para retornar aos braços de sua amada Penélope.

Autor do mês

Maria Alberta Meneres

Biografia
Maria Alberta Meneres, de seu nome completo Maria Alberta Rovisco Garcia Meneres de Melo e Castro nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1930. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, pela Universidade Clássica de Lisboa. Foi professora do ensino secundário e colaborou em diversas publicações nomeadamente Távola Redonda, Diário de Notícias, Cadernos do Meio-Dia e Diário Popular, tendo neste último sido responsável, durante dois anos, pela secção Iniciação Literária.
A sua primeira obra data de 1952 e intitula-se Intervalo, tendo sido premiada, em 1960, com o seu livro Água-Memória, no Concurso Internacional de Poesia Giacomo Leopardi. Maria Alberta Meneres tem dedicado grande parte da sua obra à literatura infantil e juvenil e produziu nesta área programas de televisão, sendo em 1975 sido nomeada chefe do departamento de programas infantis e juvenis da RTP.
Ao longo da sua carreira tem recebido inúmeros prémios nomeadamente o Prémio de Literatura Infantil da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1981. Em colaboração com Ernesto de Melo e Castro, organizou, em 1979, uma Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa.
Obras da autora
Ficção
O Poeta Faz-se aos 10 Anos, 1973
A Chave Verde e os Meus Irmãos, 1977
Hoje há Palhaços, 1977
Primeira Aventura no País do João, 1977

Poesia
Antologia da Poesia Portuguesa (1940-1977)
Intervalo, 1952
Cântico de Barro, 1954
A Palavra Imperceptível, 1955
Oração de Páscoa, 1958
Água - Memória, 1960
A Pegada do Yeti, 1962
Poemas Escolhidos, 1962
Os Mosquitos de Suburna, 1967
Conversas em Versos, 1968
Figuras, Figuronas, 1969
Lengalenga do Vento, 1976
Um + Um = Dois Amigos, 1976
E Pronto, 1977
O Robot Sensível, 1978

Semana Sim Semana Não, 1978
Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa, 1982


Sítios Web sobre a poetisa
Biografia, Obra, Textos online, Prémios de Maria Alberta Menéres
http://www.mulheres-ps20.ipp.pt/M_Alberta_Meneres.htm
Entrevista com Maria Alberta Menéres
http://caracol.imaginario.com/autografos/malbertameneres/index.html
Projecto Vercial - Vida e Obra de Maria Alberta Menéres
http://www.ipn.pt/literatura/meneres.htm
Biografia e Bibliografia da escritora
http://www.asa.pt/autores/autor.php?id_autor=205
Biografia e Bibliografia de Maria Alberta Menéres - Casa Comum da Lusofonia http://educom.sce.fct.unl.pt/proj/casa-comum/2/biblioteca/autor.php?id=193

Este mês sugerimos o livro...

À Beira do Lago dos Encantos

Obra de Maria Alberta Menéres, remete-nos para um encantamento, personificado, no texto, pela Fada, enquanto personagem associada ao imaginário infantil de todos nós, e pelos valores de solidariedade que as personagens juvenis dos dois planetas nos transmitem.
Podendo ser destinada à representação, esta obra coloca-nos no espaço desconhecido de um outro planeta com características próximas das da Terra, cujos habitantes "transparentes por dentro" vão entendendo uma realidade nova, à medida que vão descobrindo o valor dos sentidos.
Na verdade, neste Planeta sem nome, caracterizado pela inexistência dos sentidos, as personagens Ele e Ela (filhos), demonstrando a tolerância própria da juventude, não se remetem aos limites do seu mundo e aceitam aprender, inventando, uma materialidade que desconhecem, embora saibam que existe.
Mundo com "papéis" invertidos, em que os filhos é que se preocupam em ensinar os pais e a transmitir-lhes a necessidade de inventar e conhecer novas realidades, como a linguística.
De facto, o pai e a mãe são personagens acomodadas ao seu meio, apenas preocupadas com o quotidiano e as tarefas monótonas que os entretêm.
A chegada a este Planeta do terrestre João vai ajudá-los na resolução de algumas das suas dúvidas.
Começando por lhes atribuir um nome - Ele passa a ser Adão e Ela será Eva (note-se o cliché religioso que a atribuição destes nomes pressupõe, enquanto nomes indiscutivelmente associados à visão religiosa da criação do mundo), esta personagem vai presenteá-los com os cinco sentidos que caracterizam o HOMEM. Através de situações diversas, plenas de afectividade e beleza, que decorrem num espaço mítico - O Lago dos Encantos - todos redescobriram, com a ajuda da personagem Fada, o mundo que os envolve. Personagem que sempre preencheu o nosso imaginário, esta Fada vai constituir-se como a possibilidade de sonhar.
Elemento associado à transmissão das novidades, o VENTO aparece como uma personagem que enforma em si próprio o novo conhecimento.
Última personagem a entrar em cena, o TEMPO vem marcar o ritmo e cadência da Vida, alertando-os para a necessidade de verificarem "a passagem das estações do ano, dos meses, dos dias e das horas."
Com novos saberes adquiridos, através destas experiências solidárias, Adão e Eva sentem-se capazes, agora, de abandonar, temporariamente o seu planeta e, juntamente com os pais, partem à procura de novos mundos, embora sempre com o desejo de regressar ao seu LAGO DOS ENCANTOS.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Hoje é o dia de Fernando Pessoa

Foi a 13 de Junho de 1888 que nasceu Fernando Pessoa, autor destes versos (em que faltam algumas partes do original) que poderás ler e ouvir no vídeo seguinte:

Recado aos Amigos Distantes

Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1951

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Este mês sugerimos Ouvir...

Pedro Abrunhosa

Pedro Abrunhosa (20 de Dezembro de 1960, Porto) é um cantor, e compositor português.
Inicia cedo os estudos musicais. Termina o Curso de Composição do Conservatório de Música do Porto. Estuda e trabalha com os professores Álvaro Salazar e Jorge Peixinho.
Faz o Curso de Pedagogia Musical com Jos Wuytack. Começa a sua carreira como docente aos 16 anos na Escola de Música do Porto. Dá igualmente aulas no ensino oficial, na Escola do Hot Clube, em Lisboa, e na Escola de Música Caiús.
Desenvolve os estudos de Contrabaixo. Funda a Escola de Jazz do Porto e a Orquestra da mesma, que dirige e para a qual escreve.
Em 1994 edita “Viagens”, o seu primeiro álbum com os “Bandemónio”. Atinge vendas recorde de 243.000 unidades atingindo a marca de tripla platina. Neste álbum conta com a participação do saxofonista de James Brown, Maceo Parker. Faz mais de duzentos espectáculos em dois anos. Apresenta-se ainda nos Estados Unidos, Canadá, Brasil, Macau, França, Suíça, Espanha, Luxemburgo, França, Itália e outros.
Lança em 1995 o Maxi-single “F”, juntamente com um livro, alcançando com ambos um inesperado impacto.
Em 1996 edita “ Tempo”, o seu segundo álbum de originais. “Tempo” ultrapassa a marca de quádrupla platina, tendo logo na primeira semana vendido 80.000 exemplares. Neste álbum trabalha em Minneapolis, Memphis e Nova Iorque com toda a banda de Prince, os New Power Generation e Tom Tucker, seu engenheiro principal. Com estes músicos apresenta-se em digressão. Neste álbum participam ainda Carlos do Carmo, Opus Ensemble e Rui Veloso. “Se Eu Fosse Um dia o Teu Olhar” faz parte da banda sonora do filme recorde de bilheteira “Adão e Eva”, de Joaquim Leitão. Editada no Brasil, esta música vende mais de 800 mil cópias.
Em 1998, é convidado por Caetano Veloso a realizar um espectáculo conjunto na Expo 98, realizando a maior enchente da Exposição Universal.
É igualmente convidado pelo realizador Manoel de Oliveira para protagonista masculino do filme “La Lettre”, rodado em Paris, Itália, Nova Iorque, Lisboa e Londres no qual contracena com Chiara Mastroianni. Com esse filme, laureado no Festival de Cinema de Cannes com o Grande Prémio do Júri, tem a oportunidade de fazer a famosa “subida dos 24 degraus”.
Escreve, compõe e produz o musical “Rapaz de Papel”, encomenda do Festival dos Cem Dias. Posteriormente grava todas estas músicas no álbum “Amanhecer”, interpretado por Diana Basto.
Em 1999 edita “Silêncio”, um disco de viragem extremamente importante para a carreira dos Bandemónio. Ultrapassa as 40.000 unidades, atingindo a marca de platina.
Em 2002 edita “Momento”, um êxito de vendas e airplay em todas as rádios nacionais, e atinge novamente a marca de dupla-platina, com vendas superiores a 90.000 unidades. Durante dois anos, a canção homónima “Momento” foi a mais tocada em Portugal.
Em 2003 edita o álbum triplo, “Palco”, resultado dos emblemáticos concertos ao vivo com os Bandemónio e os HornHeads de Prince. Com este álbum, dupla platina, atinge vendas de 72.000 unidades.
Em 2004 encerra o Rock in Rio Lisboa, concerto integrado na sua digressão 2002/2004 com mais de 120 espectáculos realizados.
Em 2005 edita o DVD Intimidade e, em 2006, o livro “Canções”, que rapidamente esgota, contendo partituras das suas mais emblemáticas músicas.
Entretanto, faz inúmeras palestras, debates e conferências por todo o país, sobretudo em Faculdades, Escolas, Bibliotecas ou afins. Escreve para a TSF, Magazine Artes, Fórum Estudante e tem trabalhos editados nas mais variadas publicações. Ainda em 2006, participa como vocalista numa das músicas do álbum de estreia da banda portuguesa Cindy Kat intitulada “A Saída”.
Lança, a 3 de Abril de 2007, o single “Quem me leva os meus fantasmas”, o primeiro do novo álbum “Luz” lançado a 25 de Junho de 2007.
O primeiro concerto de Pedro Abrunhosa e Bandemónio após o lançamento do álbum “Luz” teve lugar no espaço “Paradise Garage” em Lisboa, na noite de 26 de Junho de 2007.
O seu álbum mais recente, "Longe", onde se apresenta com a sua nova banda Comité Caviar, encontra-se disponível nos locais habituais, desde 12 de Abril de 2010, data em que também foi lançado o seu mais recente website - http://www.abrunhosa.com/. A aparência do site modifica-se conforme a hora do dia em que se visita, acompanhada por efeitos sonoros adaptados à hora e local que as imagens de fundo evocam.
O álbum "Longe" foi apresentado na Casa da Música, no Porto, a 2 de Maio de 2010, estando nessa altura no 1º lugar no top de vendas.
 Encontra-se há mais de 50 semanas consecutivas na tabela de vendas em Portugal, tendo atingido o galardão de platina.
Autor e compositor de todas as músicas incluídas nos seus álbuns, Pedro Abrunhosa define-se como “cantautor”.

 Discografia:

Álbuns de estúdio:
 1994 - Viagens
 1996 - Tempo
 1999 - Silêncio
 2002 - Momento
 2007 - Luz
 2010 - Longe
Álbuns Ao Vivo:
 2003 - Palco

EP:
 1995 - F
 1997 - Tempo - Remixes e Versões
 1998 - Pedro Abrunhosa

DVD:
 2005- Intimidade

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O CALDO DE PEDRA

Um frade andava ao peditório; chegou à porta de um lavrador, mas não lhe quiseram aí dar nada. O frade estava a cair com fome, e disse:
— Vou ver se faço um caldinho de pedra. E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela para ver se era boa para fazer um caldo. A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança. Diz o frade:
— Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.
Responderam-lhe:
— Sempre queremos ver isso.
Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, disse:
— Se me emprestassem aí um pucarinho.
Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.
— Agora se me deixassem estar a panelinha aí ao pé das brasas.
Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele:
— Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava de primor.
Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada para o que via. Diz o frade, provando o caldo:
— Está um bocadinho insosso; bem precisa de uma pedrinha de sal.
Também lhe deram o sal. Temperou, provou, e disse:
— Agora é que com uns olhinhos de couve ficava que os anjos o comeriam.
A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves tenras. O frade limpou-as, e ripou-as com os dedos deitando as folhas na panela.
Quando os olhos já estavam aferventados disse o frade:
— Ai, um naquinho de chouriço é que lhe dava uma graça...
Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço; ele botou-o à panela, e enquanto se cozia, tirou do alforge pão, e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beiço; depois de despejada a panela ficou a pedra no fundo; a gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:
— Ó senhor frade, então a pedra?
Respondeu o frade:
— A pedra lavo-a e levo-a comigo para outra vez.
E assim comeu onde não lhe queriam dar nada.

In Teófilo Braga, Contos Tradicionais Do Povo Português

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Inauguração do Portal da RB de Grândola

No passado dia 25 de Maio inaugurou-se o portal da rede de bibliotecas de Grândola, que disponibiliza a todos os utilizadores das bibliotecas do nosso concelho um catálogo coletivo, facilitando assim o acesso a variada informação e promovendo, desta forma, o prazer da leitura.
Nesta cerimónia estiveram presentes várias entidades, entre as quais a nossa escola que se representou através da nossa Diretora, professora Ângela Filipe.
No final, alunos dos vários níveis de ensino brindaram os presentes com variadas leituras. Pela nossa escola estiveram presentes as alunas Inês Bica e Marta Romão do 7º B, Rita Melo do 10º C e Joana Verdades do 11º C. Estão todas de parabéns pelas excelentes leituras efetuadas e a quem agradecemos a sua participação.



quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dia da Criança



As crianças têm direitos! Vejam a Declaração da UNICEF.