segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Concurso "Postais de Natal Digitais"

Realizou-se um concurso de postais de natal digitais ao qual concorreram vários alunos. Após a receção dos mesmos por email os elementos do júri deram a sua opinião sobre os seguintes postais...


O júri, que agradece a participação de todos os que enviaram os seus trabalhos, escolheu como vencedor o seguinte postal, cujo autor foi o aluno André Ventura do 12º B.



Ao menino Jesus

Hoje é dia de Natal
Mas o menino Jesus
Nem sequer tem uma cama,
Dorme na palha onde o pus.

Recebi cinco brinquedos
Mais um casaco comprido.
Pobre menino Jesus,
Faz anos e está despido.

Comi bacalhau e bolos,
Peru, pinhões e pudim.
Só ele não comeu nada
Do que me deram a mim.

Os reis de longe trazem
Tesouros, incenso e mirra.
Se me dessem tais presentes,
Eu cá fazia uma birra.

Às escondidas de todos
Vou pegar-lhe pela mão
E sentá-lo no meu colo
Para ver televisão.

Luísa Ducla Soares

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Leitura a duas vozes

No passado dia 14 teve lugar na nossa biblioteca um serão literário com leitura a duas vozes que voltou a contar com a presença de professores, alunos e familiares, que leram para os presentes textos, alguns da sua autoria, alusivos à quadra natalícia que se avizinha e que deliciaram os ouvintes. As leituras foram acompanhadas por um excelente fundo musical proporcionado pelo som de uma guitarra.


Leitura e dramatizações na creche

No dia 14 vários alunos das turmas do 7º e 8º ano deslocaram-se às instalações da Creche e Jardim de Infância de Grândola onde, simultaneamente em três salas, proporcionaram aos mais pequenos leituras de contos, pequenas dramatizações e cânticos que deliciaram os atentos espetadores.



quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O grilo de Barcelona

Andávamos de automóvel em Barcelona. Milhares de carros andam todos os dias em Barcelona. Barcelona é uma grande cidade. São quilómetros de ruas largas. Muitas, cheias de flores e de grandes prédios de pedra tão trabalhada, cheia de recortes como as próprias flores. Ruas por onde andou Picasso, aquele pintor tão grande que em Barcelona não coube.
O trânsito tinha parado. Aparecera a luz vermelha para mandar parar todos os carros. E tudo parou.
Era noite.
Nós íamos num táxi – um táxi cor de laranja e negro como são todos os táxis em Barcelona. Conforme é o dia de descanso do táxi – motorista e motor – está escrito, por fora, logo abaixo da capota: Lunes (segunda-feira), Lu; Martes (terça-feira), M; Miercoles (quarta-feira), Mi; Jueves (quinta-feira), J; Viernes (sexta-feira), Vi; Sabado (sábado), S; Domingo (domingo), D.
Mas não devia ser o dia de descanso no mundo dos grilos porque a minha tia, com quem eu ia no carro com o meu primo, disse:
— É um grilo! Escutem…
Numa cidade tão grande! Naquele silêncio, no meio da paragem de todos os carros, a voz pequenina do grilo erguia-se na noite toda iluminada de estrelas e das cores dos anúncios luminosos.
— Um grilo!
Todos sorrimos encantados. Vimos o motorista sorrir, refletido no espelhinho retangular do táxi.
— Que quieren ustedes! El pobrecito trabaja también!
O pobrezito, o grilo, trabalhava como uma caixinha de música antiga, ou o músico de uma grande orquestra que tocasse uma música para todo o mundo. Ou até como um pequenino transístor de pilhas ali sobre o tapete de relva que ficava ao lado do nosso táxi.
Tapete de relva que circundava uma estátua de pedra branca – estátua de um Poeta que também cantara versos de alegria ou de tristeza, da vida de todos nós.
Mas a estátua perdia-se na noite, nos milhares de estrelas do céu, nos anúncios, nas janelas iluminadas, às quais, de vez em quando, se encostava alguém a receber o fresco da noite.
Mas foram uns segundos. A luz mudou para verde. Os carros recomeçaram a andar. Um barulho ensurdecedor ao longo das longas e largas ruas.
O grilo já não se ouvia. As suas asas brilhantes continuariam a estremecer sobre a relva húmida e verde, pequenina caixa de música, pequenino músico de uma orquestra, ou até pequeno transístor, minúsculo, de trazer no bolso.
Eu tinha vindo de uma ilha, sobre o oceano Atlântico, na qual havia tantos grilos e, talvez por haver tantos, ali o seu canto não me espantava.

E, naquela rua de Barcelona, entre uma luz vermelha e outra verde, o canto dum pequenino grilo dizia-me, e a todos que íamos no carro, um segredo muito belo, que não tinha palavras portuguesas nem castelhanas, nem abreviaturas como as dos dias da semana escritos por fora dos táxis negros e cor de laranja. Que não era escrito em língua nenhuma senão a do coração dos homens. Era o pequenino grilo dos montes da ilha solitária do Atlântico, ou daquela grande cidade já perto de França.
O sorriso do motorista no espelhinho, esta capacidade de todos nos entendermos, de todos sermos irmãos, amigos. De escutarmos, encantados, um pequenino grilo no silêncio de segundos entre a luz vermelha e a verde. Numa cidade de três milhões de pessoas.
Amigo, que me lês, talvez digas que eu não te contei uma história. Mas tu próprio, que és um futuro Homem, fraterno e bom, contarás aos teus filhos esta história que não é fábula imaginada e que se chama «O Grilo de Barcelona». Lunes, Martes, Miercoles, Jueves, Viernes, Sabado, Domingo… uma história de todos os tempos, de todos os dias. A história do silêncio e de um pequenino cantar.

Matilde Rosa Araújo
 O Sol e o Menino dos Pés Frios (adaptado)
 Lisboa, Livros Horizonte Lda, 2001

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A arte de ler e de contar... com José Fanha

No âmbito da realização da 27ª feira do livro da biblioteca municipal de Grândola, foi convidado este ano o escritor José Fanha que no dia 29 de Novembro realizou 3 sessões sobre “A arte de ler e contar…” para as turmas do 9º ano da EB2,3 D. Jorge de Lencastre e da ES António Inácio da Cruz.


O escritor procurou suscitar o interesse e a curiosidade dos alunos pelas obras e a atividade de vários escritores para além da sua pessoa, com a convicção de que, desta forma, novos potenciais leitores poderão surgir. Durante as suas sessões deliciou os presentes com vários tipos de leitura e com as pequenas histórias cheias de humor que contou.


Da parte dos alunos houve uma participação ativa tendo sido colocadas questões ao escritor que proporcionaram partilhas de experiências.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Os mais de Outubro - Leitores

Os mais vistos em Outubro

Os mais lidos em Outubro

A Voz da Terra

Um rei que vivia solitário, certo dia, lembrou-se de mandar construir um palácio que fosse uma grande maravilha. E para que essa construção ficasse de facto grandiosa, pensou que só poderia erguê-la sobre uma alta coluna cujo alicerce infinitamente forte pudesse, em verdade, sustê-la. Chamando o seu íntimo ajudante, deu-lhe esta ordem:
— Desejo que mandes alguns homens a todas as florestas e bosques do universo a fim de encontrarem a árvore mais ampla e mais alta que houver debaixo do sol. Não te surpreendas, vai.
E trinta rachadores de madeira partiram à procura da árvore gigantesca. Semanas depois, regressaram:
— Encontramos a árvore, mas é impossível transportá-la.
— Levem cavalos para a trazer! – exclamou o rei.
— Não poderiam com ela.
— Algumas centenas de bois?
— Não poderiam com ela.
— Todos os meus elefantes?
— Também não será bastante.
— Pois seja como for; dentro de um prazo de oito dias, quero a árvore aqui! – disse, por fim, com azedume.
E os trinta leais servidores, de cabeça baixa, e em silêncio, partiram para a floresta. Porém uma outra árvore surgiu ainda mais bela. Era uma árvore venerada por todos os habitantes desse pequeno lugar e arredores, porque viviam na ilusão – ou na certeza! – de que um deus nela habitava e que a essa presença divina é que a árvore devia a sua exuberante formosura e o seu aspeto tão alto, tão forte, maravilhoso! Entretanto, o rei ordenou que a derrubassem porque só ela poderia ser a coluna do seu desejado palácio. Descantes e danças, abraços e beijos, à roda do velho tronco, misturavam-se na voz de alguém que a cantar dizia:

Deus, oculto e generoso,
Procura outra morada,
Que esta árvore frondosa,
À ordem de El-rei senhor,
Vai, por nós, ser derrubada.

A folhagem estremeceu; as ramarias mais altas inclinaram-se, chorosas, e um vago lamento se ouviu:
— Se o vosso rei teimar nesse propósito, todas estas árvores de fruto e todas estas plantações que crescem à minha volta ficarão também destruídas. Digam, pois, ao vosso rei, que esse desejo é cruel. Contudo, se ele teimar, humildemente me entrego…
Nessa noite, enquanto o soberano dormia, o deus da árvore venerada apareceu-lhe e ao ouvido assim falou tristemente:
— Sei eu que mandaste derrubar a árvore maior e mais alta da floresta. Venho pedir-te que não pratiques esse monstruoso crime.
— Mas onde vou eu encontrar a coluna para o palácio que quero mandar construir?
— Raciocina, Rei sabedor: durante quatro mil anos recebi a adoração de todos os habitantes destas povoações vizinhas e, em troca, só benefícios saíram das minhas mãos. As aves adormecem, cantam e vivem nos meus ramos. Espalho sombra e bem-estar ao caminhante fatigado pelas ardências solares. Estão comigo a paz e o bem.
— É verdade quanto dizes, ó alma dessa árvore formosa. Mas mantenho o que desejo.
— Está bem; não devo contrariar-te. Só uma coisa ainda te peço. Manda-a cortar por três vezes. Primeiro, a cabeça coroada de folhagem verde; depois, o tronco com os seus braços abertos ao amor e ao infortúnio; e, por fim, as raízes que são tantas e tão profundas que hão de abalar a terra inteira.
— O que me pedes surpreende-me pela originalidade. Até hoje ninguém me pediu que lhe tirasse a vida por três vezes! Porque não queres suportar a morte num golpe certeiro?
— Eu te respondo, rei inteligente: à volta de mim cresce e vive a minha família. Variadíssimas árvores prosperam à minha sombra generosa. Se eu tombar de um arranco, o meu corpo pesado e enorme, vai, certamente, mutilar essas vidas florescentes; mas, se cair por três vezes e em três bocados, será mais suave o desastre, por elas e não por mim!
No dia seguinte a ordem do rei era esta:
— Não quero que derrubem essa árvore! Nela mora um espírito de tanta beleza moral que é necessário respeitar e ouvir. As árvores são sagradas. Para edificar a minha casa outra coluna se arranjará; talvez de bronze ou de prata, ou, talvez, unicamente deste infeliz coração que bate aqui no meu peito.

in Os Contos de António Botto

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Este mês sugerimos o livro...

Gaibéus,
que são os jornaleiros do Ribatejo ou da Beira Baixa que vão trabalhar nas lezírias durante as mondas, é o primeiro romance de Alves Redol e inaugura, em 1939, o neo-realismo em Portugal.
Retrata "um povo resignado que luta afincadamente durante o tempo quente, antes da chegada do Inverno, em condições extremas para fazer render os poucos cobres que lhes pagam por tamanha dureza. Por um lado o trabalho árduo de sol a sol, as doenças (malária), a fadiga e a teimosia em cada vez se fazer o trabalho mais rápido para mais rendimento obter, a sede, a fome, a pobreza extrema. Por outro lado, o modo como preenchiam as escassas horas de lazer, os sonhos de uma vida melhor, os projetos sem logro, o vinho para alegrar os espíritos. As mulheres ainda sofrem de outro tipo de exploração, sendo sujeitas aos caprichos do senhor das terras que as escolhe para os seus prazeres carnais."
A obra marca o estilo inaugural de Redol, autor marxista que procura através das palavras denunciar as desigualdades sociais e a exploração do homem pelo homem.

Conheces o autor do mês?

António Alves Redol

Vila Franca de Xira, 29 de Dezembro de 1911 – Lisboa, 29 de Novembro de 1969), escritor, considerado como um dos expoentes máximos do neo-realismo português.

Começou a trabalhar ainda bastante jovem, devido situação modesta da sua família. Parte para Angola, aos 16 anos, procurando melhores condições de vida, regressando a Portugal três anos depois. Junta-se ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), que se opunha ao regime do Estado Novo, e filia-se no Partido Comunista, escrevendo artigos no jornal O Diabo.
Introduziu o neo-realismo em Portugal com o romance Gaibéus (1939), nome dado aos camponeses da Beira que iam fazer a ceifa do arroz ao Ribatejo, em meados do século XX. Daí em diante sua obra revela uma grande preocupação social, ainda que velada, dada a censura e a perseguição política movida pelo regime de Salazar aos oposicionistas, e nomeadamente aos simpatizantes do PCP, como era o caso. Chegou mesmo a sofrer prisão política tendo sido torturado.
O seu último romance, Barranco de Cegos, de 1962, é considerado sua obra-prima e afirma sua nova fase, em que a intervenção política e social é posta em segundo plano, dando lugar a um cuidado especial com as  personagens e a sua evolução psicológica.
Obras Literárias
•          Gaibéus (1939)
•          Marés (livro) (1941)
•          Avieiros (1942)
•          Fanga (1943)
•          Os Reinegros (1945)
•          Anúncio
•          Porto Manso (1946)
•          Ciclo Portwine (composto de três romances: Horizonte Cerrado (1949), Os Homens e as Sombras (1951) e Vindima de Sangue (1953) )
•          Olhos de Água (1954)
•          A Barca dos Sete Lemes (1958)
•          Uma Fenda na Muralha (1959)
•          Barranco de Cegos (1962), considerada a sua obra-prima.
•          A Vida Mágica da Sementinha
•          Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos

Este mês sugerimos Ouvir...

COLDPLAY

banda britânica de rock alternativo fundada em 1996 em Inglaterra pelo vocalista Chris Martin e o guitarrista Jonny Buckland. O baixista, Guy Berryman, e mais tarde o baterista, Will Champion, juntaram-se ao grupo. O empresário Phil Harvey é muitas vezes considerado o quinto membro não oficial. Em 1998 a banda passou a chamar-se "Coldplay.
Conseguiram fama mundial com o lançamento do single "Yellow" em 2000, seguido pelo seu álbum de estreia lançado no mesmo ano, Parachutes, que foi nomeado para um Mercury Prize. O segundo álbum da banda, A Rush of Blood to the Head (2002) foi lançado com várias críticas positivas, vencendo vários prémios, incluindo o de Álbum do Ano, tendo sido considerado o melhor álbum do Coldplay. O seu álbum seguinte, X&Y foi inicialmente recebido com opiniões diversas pela crítica, após o seu lançamento em 2005. No entanto, o quarto álbum de estúdio da banda Viva la Vida or Death and All His Friends (2008), produzido por Brian Eno, foi recebido com comentários favoráveis e obteve várias indicações para prémios, vencendo o Grammy. Em 24 de outubro de 2011, a banda lançou seu quinto álbum, intitulado Mylo Xyloto. Tal como seus antecessores, o álbum foi um sucesso comercial.
A banda já ganhou vários prémios  incluindo seis Brit Awards — vencendo o de Melhor Grupo Britânico três vezes, quatro MTV Video Music Awards, e sete Prêmios Grammy entre vinte indicações. Os Coldplay já venderam mais de 50 milhões de discos em todo o mundo.

Este mês sugerimos o filme...

Tudo começa numa tradicional vila francesa chamada Lansquenet, onde a vida não mudou nos últimos 100 anos. Com o vento norte chega à vila Vianne Rocher, uma jovem mãe solteira, e sua filha de seis anos,  Anouk. Vianne tem a "ousadia" de abrir uma loja de chocolates, que funciona todos os dias, bem em frente à igreja. Com um ar de feiticeira, encanta alguns moradores com suas receitas, algumas bastante exóticas, irresistíveis "tentações" que despertam os apetites escondidos dos habitantes da terra. Mas a quase mágica habilidade de Vianne para perceber os desejos de todos e de os satisfazer com a confeção certa, lentamente persuade alguns deles a renderem-se às tentações dela própria. Vianne desenvolve então depressa uma reputação... e um inimigo: Reynaud. Reynaud está convencido de que o sumptuoso chocolate de Vianne minará a vila e o código moral da população. E logo se estabelece o confronto entre os querem manter a vida como estava e os que se rebelam pela defesa do sabor da liberdade. Entretanto, a situação de Vianne fica ainda mais complicada quando se envolve com Roux um músico andarilho que aparece na aldeia.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Chá com Letras

No passado dia 16 de Novembro pelas 20h30 reatou-se o “Chá com Letras” com a realização de uma sessão subordinada à leitura informal sobre temas da atualidade e que contou com mais de duas dezenas de participantes. Leu-se excertos de notícias que foram alvo de reflexão por parte dos presentes, que emitiram opiniões e trocaram ideias sobre as mesmas. Foi um serão agradável, mas o tempo foi curto para os assuntos que muitos trouxeram para se debater. A acompanhar as leituras não faltou o habitual chá com biscoitos que tornaram o ambiente mais aconchegador. Para o próximo período teremos uma nova sessão com tema a anunciar.

Presença

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frémito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
subtilmente, no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

Mário Quintana

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Ação de formação PORDATA/RBE

Realizou-se no passado dia 14 de Novembro nas instalações da ESAIC uma ação de formação PORDATA / RBE ministrada pelo formador Bernardo Gaivão, que contou com a participação de professores, bibliotecários e alunos num total de 20 pessoas.
Durante a ação os participantes tiveram a oportunidade de tomarem conhecimento das várias ferramentas, associadas a uma extensa base de dados, que facilitam a consulta de milhares de estatísticas sobre Portugal e a Europa.
A terminar a sessão foi dado conhecimento aos alunos presentes da existência de um concurso PORDATA/RBE aberto a todos os alunos do secundário que para participarem têm de realizar um trabalho sobre qualquer tema que gostem, cujo conteúdo seja desenvolvido a partir dos dados da PORDATA e  em http://www.ffms.pt/pordata/161/concurso-pordatarbe-201112 podem aceder ao respetivo regulamento.


sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Poesia de Outono com castanhas

Comemorou-se hoje o dia de S. Martinho com uma atividade, que decorreu nas várias salas da nossa escola, intitulada “Poesia de Outono com castanhas” e que visou promover hábitos de leitura através da declamação de alguns poemas de autores portugueses e da leitura de quadras alusivas à efeméride. Várias turmas da escola estiveram envolvidas, tendo os alunos participado de forma empenhada. Foram também expostos provérbios, adivinhas e não faltaram as castanhas assadas que no nosso país fazem parte da tradição do S. Martinho.




quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Um relógio diferente dos outros

Começa esta história no Parque das Folhas Caídas. E começa quando o senhor Miguel Varredor, que tinha muitas folhas caídas para vassourar, encontrou, junto a um grosso carvalho com séculos de vida, um objeto a luzir no meio das folhas. Parecia um relógio. O senhor Miguel baixou-se e examinou o achado. Era, efetivamente, um relógio.

Desde que entrara ao serviço naquele parque, muitas coisas perdidas, algumas de valor, já achara: luvas, livros, chapéus, óculos, lenços, bolsas… – nem lhes tinha a conta.

E também um relógio, uma vez por outra.

O senhor Miguel pegava no objeto, achado por ele e perdido por alguém, que ele não conhecia, e entregava-o ao porteiro do parque, para que ele se encarregasse de o devolver «a quem provasse pertencer-lhe». Era assim tal e qual que vinha escrito no regulamento do Parque das Folhas Caídas.

Só uma vez não procedeu desta maneira.

Foi quando achou, no meio do parque, um menino que se perdera. Não o entregou ao porteiro, como estava escrito no regulamento. Ele próprio levou o achado pela mão até à casa dos pais do tal menino.

Ali estava mais um objeto perdido: um relógio. Era de ouro e tinha um lindo mostrador desenhado, com os números em relevo. O senhor Miguel observou melhor e reparou que tinha nas mãos um relógio invulgar, um relógio como nunca vira outro assim. Não se limitava a ser um relógio de bolso bonito, mesmo muito bonito. Era, realmente, um relógio extraordinário.

Um raio de sol, suspenso da rede de folhas, incidiu sobre o mostrador, como para apontar ao senhor Miguel as maravilhas de que aquele relógio se compunha.

— Tantos ponteiros! E para quê? – perguntava o senhor Miguel de si para si.

Então começou a reparar: um ponteiro para os segundos, outro para os minutos, outro para as horas. Até aqui era um relógio vulgar. Mas havia mais ponteiros… Um que indicava os dias da semana, outro que indicava os meses e outro que indicava as estações do ano. Numa fresta, numa pequena janela aberta no mostrador, distinguia-se um número de dois algarismos – era o dia do mês, e num buraquinho redondo, que quase se não via, lá estava também um número de quatro algarismos, a indicar o ano. Relógio mais completo seria impossível inventar!

O relógio trabalhava num tic-tac leve, que mal se ouvia. O senhor Miguel procurou a corda. Não tinha. «Talvez trabalhe com o calor do sol, como sucede às plantas… Talvez trabalhe como o próprio Sol, que também não precisa de corda…», pensou o senhor Miguel, mal acreditando em tanta perfeição.

Foi a correr entregar o seu achado ao porteiro do parque. O dono do relógio devia estar em cuidado. De certeza que, àquela hora, corria, aflito, toda a cidade à procura do seu maravilhoso relógio. Daí a pouco passaria pelo parque e perguntaria se tinham encontrado um relógio com seis ponteiros, um relógio de mostrador desenhado, um relógio de ouro, um relógio muito valioso, muito antigo, um relógio extraordinário. Não podia fazê-lo esperar.

Mas o dono não apareceu nesse dia, nem nos dias seguintes. Nunca apareceu. Entretanto, o relógio continuava a trabalhar no seu tic-tac leve e a indicar com toda a precisão o segundo, o minuto, a hora, o dia, o mês, a estação do ano, o ano. Por duas vezes rodou o ponteiro dos meses no mostrador desenhado. Ao fim de dois anos, o relógio foi entregue ao senhor Miguel, porque ninguém o reclamara até então.

O relógio maravilhoso passava a pertencer ao senhor Miguel.

Ele ainda quis opor-se:

— Não mereço. Sou um homem tão simples… – queria ele dizer, mas a felicidade que sentia não o deixou falar.

O relógio de ouro passou a ser a sua única preocupação.

— Se ele para?

Mas o relógio não parava. Corria o ponteiro dos segundos, arrastava-se o ponteiro dos minutos, nem se via andar o ponteiro das horas. Os outros ponteiros pareciam parados, mas, quando vinha a chuva e o frio, o ponteiro das estações marcava, pontualmente, o Inverno.

O primeiro pensamento do senhor Miguel, ao acordar, era para o seu relógio. Teria o ponteiro dos dias ficado preso?

Ter-se-ia esquecido de andar? Nunca tal sucedia. O relógio maravilhoso nunca se atrasava.

Muitos algarismos passaram pelo buraquinho redondo que marcava os anos. Era um relógio incansável. Não podia dizer o mesmo o senhor Miguel. Envelheceu. Reformara-se. Já lhe faltava a vista para saber as horas e anos que o mostrador indicava. Umas vezes os filhos, outras os netos, outras os bisnetos, é que lhe diziam as horas, quando ele pedia.

Para que lhe servia saber as horas, se já perdera a conta dos anos que tinha? Ora, para quê? Só para ter a certeza de que o relógio que ele achara, o seu relógio, estava ali, continuava a trabalhar.

Quando, sentado numa cadeira de baloiço, com um cobertor pelos joelhos, acordava da sesta, perguntava logo ao bisneto mais novo:

— Que horas são?

— Sete horas, bisavô – respondia o garoto.

— De que dia?

— Terça-feira.

— E de que estação?

— Primavera, bisavô.

O senhor Miguel descansava. Mas esquecera qualquer coisa:

— Olha… e de que ano?

O bisneto dizia.

— Tão tarde – comentava o senhor Miguel, e voltava a adormecer.


António Torrado, O mercador de coisa nenhuma

Livraria Civilização Editora, 1994