Os Meus Amores
Volume de contos
rústicos, de Trindade Coelho, que conheceu três edições sucessivas em vida do
autor e goza ainda hoje de uma grande popularidade, constituindo, de facto, uma
obra única da literatura portuguesa. Sobre o realismo das histórias (veja-se a
série "Comédia da província"), marcadas pela evocação saudosista da
vida rural e imbuídas de reminiscências da infância (o autor chamou-lhes
"saudades"), paira quase sempre uma visão idealista da província,
impregnada de um moralismo subtil, que distingue Trindade Coelho, por um lado,
do Realismo-Naturalismo de Teixeira de Queirós, por outro lado, de outros
cultores do conto rústico, como Júlio Dinis, Pedro Ivo ou Rodrigo Paganino,
onde o propósito edificante é bem mais evidente. Trata-se quase sempre de
enredos simples, que exaltam a genuinidade dos tipos e das paixões rurais, seja
o amor inocente que une os protagonistas de "Idílio rústico", seja o
amor materno em "Mater dolorosa", seja o remorso pungente de José
Gaio em "Vae victoribus!", seja a paixão entre Luísa e Tónio em
"Vae victis!" ou entre Manuel e Maria Rosa em "Manuel
Maçores", e exploram todas as tonalidades do sentimento, da balada suave
("Idílio rústico", "Maricas") à tragédia intensa ("Última
dádiva", "Vae victoribus!", "Manuel Maçores", este
baseado num caso de justiça que passou pelas mãos do autor, em Portalegre), da
profunda tristeza ("Abyssus abyssum", "Mater dolorosa") à
alegre bonomia ("Para a escola", "Luzia"). A terceira parte
da colectânea, intitulada "Amorinhos", fixa por escrito quatro
narrativas de tradição oral. O estilo do autor caracteriza-se pela naturalidade
e pela coloquialidade, incorporando nos diálogos diversos regionalismos e
entremeando a narração de interpelações ao leitor: "Façamos de conta que a
boca se calou, com efeito. Que não se calou. Mas, neste particular, o resto do
diálogo convém que se omita, mesmo porque afinal nem eu nem os senhores
queremos mal à mulher do José da Loja" (de "Prelúdios de
festa").
Os Meus Amores. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora,
2003-2013. [Consult. 2013-02-07].
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