terça-feira, 30 de outubro de 2012

Uma guloseima para a Noite das Bruxas


O saco com as guloseimas estava pronto e sentia-me ansiosa por ver chegar as crianças marotas. Mas, na manhã da Noite das Bruxas tive um ataque de artrite muito forte e, à tardinha, mal me conseguia mexer. Como sabia que ia ser difícil atender todas as vezes que batessem à porta, decidi deixar o saco pendurado da parte de fora da porta e ver, na sala às escuras, o desfile das crianças mascaradas.
A primeira a chegar foi uma bailarina com três fantasminhas. Cada um pegou numa guloseima, exceto o último, que tirou do saco uma mão cheia. Foi então que ouvi a bailarina ralhar: “Não podes tirar mais do que uma!” Fiquei contente por a criança mais velha agir como se fosse a consciência do pequeno.
Seguiram-se princesas, astronautas, esqueletos e extraterrestres. Apareceram mais crianças do que as de que eu estava à espera. Como as guloseimas estavam a acabar, preparei-me para desligar a luz da entrada. Detive-me ao reparar que tinha mais quatro visitas. Os três mais velhos meteram a mão no saco e retiraram um chocolate cada. Sustive a respiração, esperançada de que ainda restasse um para uma bruxinha. Mas, quando ela retirou a mão, tudo o que segurava era apenas uma simples goma de laranja.
Os outros chamaram:
— Emily, despacha-te! Não há ninguém em casa para te dar mais guloseimas.
Mas Emily deixou-se ficar mais um pouco. Meteu a goma no seu saco e, imóvel, ficou a olhar para a porta. Depois, disse:
— Obrigada, casa. Gosto muito da goma de laranja.
E correu a juntar-se aos companheiros.
Uma bruxinha querida tinha-me lançado um feitiço.



Evelyn M. Gibb

J. Canfield; M. V. Hansen; J. Read Hawthorne; M. Shimoff
Second Chicken Soup for the Woman’s Soul
Florida, HCI, 1998
(Tradução e adaptação)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Dicionário do ebook

Um minidicionário com a definição de cerca de uma centena de termos relacionados com o mundo do ebook e da edição digital. Inclui uma completa e atualizada bibliografia de publicações online e gratuitas sobre ebooks.





quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Em Dias de Luz Perfeita e Exata



Às vezes, em dias de luz perfeita e exata,
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza às cousas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas,
Perante as cousas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXVI"



sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Outubro - mês internacional da Biblioteca Escolar

O mês de outubro é o Mês Internacional da Biblioteca Escolar, este ano dedicado ao tema "Biblioteca escolar: uma chave para o passado, presente e futuro".

"Uma chave para o passado, porque sem memória e transmissão do conhecimento seria impossível receber a herança e património de saberes, que hoje nos identifica a todos; uma chave para o presente, porque só através do domínio da informação e gestão do conhecimento, que configuram a nossa era, podemos dar continuidade a esse legado, enriquecê-lo e projetá-lo no tempo; uma chave para o futuro, porque este dependerá sempre da ação, expectativas e capacidade de gerir as mudanças com que o desejamos tecer.
As bibliotecas são uma das criações humanas que melhor cumprem este desígnio, de perpetuar, gerar e promover o conhecimento, no sentido de uma sociedade mais culta e instruída. A importância particular das bibliotecas no campo educativo faz delas uma das chaves maiores deste desígnio." (site da RBE)
A mudança do Dia Internacional da Biblioteca Escolar para o Mês Internacional da Biblioteca Escolar foi aprovada pela International Association of School Librarianship (IASL) em janeiro de 2008, devido à importância que esta efeméride foi assumindo em diferentes países.  O seu objetivo é chamar a atenção para a importância das bibliotecas escolares na educação e na formação dos cidadãos do presente e do futuro, respeitando o nosso património cultural.
De acordo com os objetivos delineados pela IASL, a Rede de Bibliotecas Escolares declara o dia 22 de outubro como o "Dia da biblioteca escolar".

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Concurso PORDATA / RBE 2012-13


Está aberta a 3ª edição do concurso PORDATA | RBE, uma iniciativa conjunta da Fundação Francisco Manuel dos Santos e da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) dirigida a alunos do ensino secundário.
Todas as escolas com ensino secundário poderão concorrer, devendo, para o efeito, dinamizar e apoiar a elaboração de trabalhos curriculares usando como fonte principal de informação a base de dados PORDATA.
Paralelamente ao concurso, decorrem as inscrições para a realização de sessões de formação, de curta duração, sobre a PORDATA destinadas a apoiar, prioritariamente, grupos de alunos/ professores interessados em participar no concurso

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Este mês sugerimos ver...


NESTE MUNDO
Em fevereiro de 2002, no Campo de Refugiados de Shamshatoo na Província da Fronteira Noroeste, no Paquistão, há 53 mil refugiados que vivem em condições sub-humanas a partir de 1979 com a invasão da União Soviética e, em 2001, com o bombardeamento e respetiva invasão do Afeganistão pelos EUA. As famílias de Enayat e do seu primo Jamal decidem enviá-los ilegalmente para Londres para terem uma vida melhor. As famílias contratam coiotes para contrabandear os primos através do Irão e da Turquia para a Itália e finalmente daí para Londres, escondidos dentro de camiões e contentores. No entanto, a longa viagem em que vão trancados num recipiente com outras famílias separa os primos e em 9 de agosto de 2002, Jamal vê o seu pedido de asilo recusado em Londres.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Conheces o autor do mês...


Luis Sepúlveda
Escritor chileno mais reconhecido no estrangeiro do que na sua terra natal. Através da publicação do seu romance “Un viejo que leía novelas de amor “ (1992) converteu-se num dos escritores latino-americanos más lidos em todo el mundo.
Desde jovem realizou numerosas viagens, de Punta Arenas a Oslo e de Barcelona a Quito. Visitou também a selva amazónica e o deserto do Sahara. Politicamente comprometido, sofreu na prisão durante a ditadura de Pinochet e posteriormente abandonou o país. O exílio o levou à Europa, onde foi publicando a maioria dos seus romances e relatos, sem mostrar um especial desejo de regressar ao seu país, o que lhe valeu diversas críticas durante algum tempo. Da mesma forma Isabel Allende, a sua obra literária não foi valorizada em consonância com o seu êxito de vendas.
Do seu ideário político e social destaca-se a sua preocupação pelo desequilíbrio do planeta e portanto pela humanidade. Pese embora o seu compromisso político, a sua obra oferece elementos menos comprometedores, mais cosmopolitas, ainda que contenha certos rasgos de moral e de alento profético. Sepúlveda se mostra admirador de Júlio Verne y de Joseph Conrad, assim como dos chilenos Manuel Rojas, Pablo de Rokha y Carlos Droguett. Com uma linguagem direta, de rápida leitura, carregada de anedotas, os seus livros denunciam o desastre ecológico que afeta o mundo e criticam o comportamento humano egoísta, mas também mostram e exaltam as mais maravilhosas manifestações da natureza.
A obra que o deu a conhecer, “Un viejo que leía novelas de amor” (1992), é uma história repleta de aventuras que se passam na selva equatoriana, no mundo dos índios shuar o jíbaros; o livro mereceu os prémios Juan Chabás de romance curto y Tigre Juan.
Se seguiram “Mundo del fin del mundo” (1994), sobre a criminosa caça de baleias praticada por empresas japonesas; “Nombre de torero” (1994), a sua primeira novela negra; “Patagonia Express” (1995), un livro de viagens; o conto “Una gaviota y del gato que le enseñó a volar” (1996), pensado para os seus filhos e cujo conteúdo ecológico está muito bem exposto, e finalmente o livro de relatos “Desencuentros “ (1997) y o mais recente “Diário de um Killer sentimental” (1998), através do qual parece, segundo algumas interpretações, que o autor abre a sua obra a novos caminhos.
Entre los últimos títulos da sua produção encontram-se “Historias marginales” (2000), Hot line (2002), romance negro protagonizada por um detetive mapuche,  “Los peores cuentos de los hermanos Grim” (2004), escrito em colaboração com Mario Delgado Aparaín, y “La sombra de lo que fuimos” (premio Primavera 2009). Muitas das suas obras encontram-se traduzidas na nossa língua.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Este mês sugerimos ouvir..


Pablo Moreno de Alborán Ferrándiz (Málaga, 31 de maio de 1989), popularmente conhecido como Pablo Alborán, é um cantor espanhol. Em 2011 recebeu três indicações para o Grammy Latino. O cantor já tem no seu currículo álbum de estúdio, um álbum ao vivo, quatro singles, quatro vídeos de música e várias colaborações musicais. Estreou-se em 2010 com seu primeiro lançamento oficial, "Solamente tú", o primeiro single do álbum de estreia, Pablo Alboran, lançado em fevereiro de 2011. Esta estreia, chegou ao primeiro lugar na sua primeira semana de vendas, o primeiro álbum a solo, assinando uma estreia no topo desde 1998 em Espanha.
Poucos meses depois de lançar o seu primeiro álbum lançou En acústico, primeiro concerto gravado ao vivo pelo cantor, que se estreou no topo da Espanha e algumas semanas mais tarde foi lançado em Portugal, chegando a ser o número 1 por várias semanas. Dos seus singles se destacam dois: " Solamente tú " e "Perdóname" , este com a cantora Carminho.
Foi a partir dos 12 anos que compôs as suas primeiras canções: 'Amor de Barrio' e 'Desencuentro’, que se encontram no seu álbum de estreia. A sua carreira artística começou pela mão de uma família flamenga que atuava num um restaurante em Málaga e que o batizaram de "El blanco moreno". É aí que atua pela primeira vez a solo.
Como outros artistas de sua geração, os seus inícios estão relacionados para o Youtube,  que lhe permitiu fazer-se a conhecer ao público em geral através da Internet, num vídeo onde ele toca guitarra aquelas que seriam as suas canções do primeiro álbum.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Este mês sugerimos o livro...

Livro de viagens de um contador de histórias.

"Este é um livro de viagens, um livro de alguém que, como nos sonhos de infância, teve a sorte de partir tantas vezes com pouco mais que um saco de viagem e uma máquina de filmar ou de fotografar. (...) Nem sempre viajei para sul, mas nada vi de tão extraordinário como o sul. O Sul é uma porta de avião que se abre e um cheiro inebriante a verde que nos suga, o calor, a humidade colada à pele, os risos das pessoas, o ruído, a confusão de um terminal de bagagens, um excesso de tudo que nos engole e arrasta como uma vaga gigantesca. Apetece fechar os olhos, quebrar os gestos e deixar-se ir. Mas é justamente neste caos que eu procuro a lucidez do contador de histórias."
Miguel Sousa Tavares

Neste livro, Miguel Sousa Tavares partilha com os leitores, fotografias e experiências únicas de viagens a São Tomé e Príncipe, Amazónia, Egipto, Goa, Cabo Verde, Alentejo, Alhambra, Marráquexe, Costa do Marfim, Tunísia, Brasil, Veneza, Guadalupe, parque Kruger, em África e o deserto de Sahara.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Recado com canário dentro


Aos oito anos de idade havia duas coisas de que eu gostava muito: do meu canário e de semear. Semeava tudo: caroços de laranja, de nêsperas e de melancia, raízes minúsculas de violeta, pétalas de papoila, olhinhos amarelos de malmequer. Semeava nos vasos, nos canteiros da escola, nas terrinas partidas, nos buracos dos troncos das oliveiras e, sobretudo, debaixo duma nespereira enorme que havia na quinta da minha casa de infância.
Tão lindo, as sementes a transformarem-se! Primeiro, nasciam duas folhas, tenras, quase transparentes. Depois, cresciam os caules, rapidamente, cobriam-se de mais folhas. Às vezes, trepavam pelas paredes brancas de cal, e as paredes ficavam verdes de folhas e mais tarde de flores, abelhas e borboletas. E, como já referi, também gostava muito do meu canário: porque era pequenino, parecia um novelo de lã amarelinha, e fora uma prenda da minha professora, que achava que eu era a melhor da aula.
O canário acordava-me todas as manhãs com o seu canto, e, mesmo que fosse Inverno, a casa ficava cheia de Sol e perfume de flores quando ele assobiava as suas canções. Mas, um dia, choveu granizo e o canário não resistiu ao frio daquelas pedras de neve. Morreu. Perturbada com a terrível revelação, depressa descobri que alguma coisa de diferente, silenciosa e implacável, pode interromper a vida e os sonhos. Então, cheia de uma tristeza tão grande e pura como só uma criança pode sentir, mas permitindo que uma ténue esperança sobrevivesse no fundo da minha dor, não hesitei: fui também semear o canário!
Do armário, tirei a caixa onde se guardavam os meus sapatos de verniz dos dias de festa. Afastei o papel de seda que os envolvia como quem abre portas de luz. Tapei o fundo da caixa com flores, muitas flores de laranjeira. Nesse pequeno leito de perfume branco, deitei o canário. De lado, como se dormisse. Mas os canários não dormem de lado, pensei; o melhor, seria de ventre para baixo, como se estivesse a cheirar as flores ou tivesse pousado apenas, um momento, para descansar dum voo. Depois, pensei ainda: e se ele acorda daquele frio, tão frio, que lhe deixou os olhos sem brilho como um vidro sujo? Assim, não vê o céu e assusta-se. Então, voltei-o com as patinhas para cima: parecia um canário a rezar ao deus dos passarinhos. Coloquei-lhe, entre as patas, um ramo com folhas verdes onde já nascia uma pequena laranja, fechei outra vez as portas de papel de seda, fechei a caixa. Desci as escadas devagar. Para não encontrar gente. Para não me fazerem perguntas. Atravessei a quinta. Penetrei nesse espaço mágico de galerias, planícies, areias lisas, que era o chão, fresco, debaixo da nespereira, e cujos ramos caíam até ao chão, com folhas e frutos a que só eu tinha acesso.
Semeei o canário.
É talvez uma semente que tenha demorado um pouco mais a nascer, porque tem asas e as asas crescem devagar. Mas eu sei, tenho a certeza que ainda um dia, subitamente, no alto duma árvore qualquer, eu avistarei essa ave. Como os meus olhos começam a ficar míopes e já confundo, muitas vezes, canários com raios de sol, espero que alguém, que ainda acredita em asas, me ajude a descobri-lo. E que não desista nunca de esperar a ave. Mesmo que ela tarde. Porque ela virá, temos de acreditar, perfumada de flores de laranjeira, rasgando portas de luz e inaugurando, com o seu canto, os dias claros de uma Primavera tão desejada.
E virá para sempre.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Dia Europeu das Línguas


Para assinalar no passado dia 26 o Dia Europeu das Línguas, a Biblioteca Escolar promoveu um conjunto de atividades na nossa biblioteca que contou com a colaboração de professoras do departamento de línguas. Foi feita a leitura de contos nas línguas inglesa e castelhana pelos alunos, a que se seguiu o completar dos provérbios naquelas línguas de forma a corresponderem aos que eram apresentados em Português. Para finalizar, os alunos das turmas que participaram na comemoração da efeméride (8ºB, 9º A, 10º C e 3º TG) responderam a um questionário online, realizado pelo Instituto Camões, para testarem os seus conhecimentos sobre línguas.


O suporte da música




o suporte da música pode ser a relação
entre um homem e uma mulher, a pauta
dos seus gestos tocando-se, ou dos seus
olhares encontrando-se, ou das suas

vogais adivinhando-se abertas e recíprocas,
ou dos seus obscuros sinais de entendimento,
crescendo como trepadeiras entre eles.
o suporte da música pode ser uma apetência

dos seus ouvidos e do olfato, de tudo o que se
ramifica entre os timbres, os perfumes,
mas é também um ritmo interior, uma parcela
do cosmos, e eles sabem-no, perpassando

por uns frágeis momentos, concentrado
num ponto minúsculo, intensamente luminoso,
que a música, desvendando-se, desdobra,
entre conhecimento e cúmplice harmonia.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"