sexta-feira, 27 de abril de 2012

Fase Distrital do Campeonato Nacional de Leitura


No dia 26 de Abril realizou-se a fase distrital do Concurso Nacional de Leitura no auditório municipal de Alcácer do Sal e que contou com a presença de 89 alunos de várias escolas do distrito de Setúbal.


Primeiro realizou-se a prova escrita na qual participaram 5 alunas da nossa escola, Ana Rita Costa do 8º B, Mafalda Pena do 8º A, Marta Romão do 8º B, Ana Raquel Pereira do 10º A e Jessie Ann Lopes do 11º C. Esta prova apurava os primeiros 6 alunos de cada ciclo (3º ciclo e secundário) para a prova oral.
Apuraram-se para a prova oral a Ana Rita Costa e a Jessie Ann Lopes.
Muitos parabéns às nossas alunas por participarem no CNL e se revelarem boas leitoras e para o ano há mais!


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Trova do Vento que Passa


Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre

Conheces o autor do mês...


José António Afonso Rodrigues dos Santos (Beira, Moçambique, 1 de Abril de 1964) é um jornalista e escritor português nascido na antiga colónia portuguesa de Moçambique. Atualmente, está a apresentar o Telejornal e a versão portuguesa do Conexão Repórter da RTP1.
Natural da província de Sofala, Cidade da Beira, na antiga colónia de Moçambique do Império Português, filho de José da Paz Brandão Rodrigues dos Santos (Penafiel, 13 de Outubro de 1930 - Janeiro de 1986), médico, e de sua mulher Maria Manuela de Campos Afonso Matos, e mudou-se ainda bebé para a cidade de Tete onde permaneceu até aos nove anos, convivendo com a Guerra Colonial. Tal como a esmagadora maioria dos portugueses, alguns dos seus antepassados estiveram envolvidos na Primeira Guerra Mundial, na Flandres e na Guerra Colonial em África, sendo que o seu segundo romance, intitulado "A Filha do Capitão" é assumido como um tributo que lhes é prestado.
Após a separação dos seus pais, vai para Lisboa onde vive com a mãe. No entanto, as dificuldades económicas da mãe levam-no a mudar-se para a residência do pai, em Penafiel, no norte de Portugal. A difícil adaptação do pai a terras lusas motivou a partida para Macau. Já no oriente, participa na elaboração de um jornal escolar, que desperta o interesse dos responsáveis da rádio local e leva o jovem estudante a ser entrevistado por uma jornalista que acabara de chegar a Macau: Judite de Sousa, hoje outra bem conhecida jornalista portuguesa, atual funcionária da TVI. Em 1981, aos 17 anos, o jovem José Rodrigues dos Santos inicia-se verdadeiramente no Jornalismo, ao serviço da Rádio Macau.
Em 1983, regressa a Portugal para frequentar o curso de Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa. Terminado o curso, candidata-se a um estágio na BBC, (British Broadcasting Corporation), a bem conhecida emissora britânica de televisão. A resposta é positiva mas não lhe é concedido qualquer financiamento. Aplica então a herança do pai, entretanto falecido, em três meses de experiência profissional em Inglaterra.
Regressa a Portugal, onde obtém duas distinções: o Prémio Ensaio do Clube Português de Imprensa, em 1986 e o Prémio de Mérito Académico do American Club of Lisbon, em 1987. Devido a essas credenciais é convidado pela BBC World Service para trabalhar em Londres, onde fica durante três anos, até 1990.
Da BBC seguiu para a RTP, onde começou a apresentar o noticiário "24 Horas". Em 16 de Janeiro de 1991, as forças coligadas de 28 países liderados pelos Estados Unidos da América dão início ao bombardeio aéreo de Bagdad, no Iraque, dando início à Primeira Guerra do Golfo. José Rodrigues dos Santos protagoniza então uma maratona televisiva de cerca de 10 horas, sobre o ataque americano ao Iraque, acabando posteriormente por se tornar o rosto mais conhecido da televisão pública.
Em 1991 passou para a apresentação do diário "Telejornal", o principal jornal diário da televisão portuguesa, no ar já por quarenta anos, e tornou-se colaborador permanente da CNN (Cable News Network), a cadeia norte americana de informação em contínuo, de 1993 a 2002. Hoje continua a apresentar o Telejornal, em conjunto com João Adelino Faria e Carlos Daniel.
Doutorado em Ciências da Comunicação, com uma tese sobre reportagem de guerra, é professor da Universidade Nova de Lisboa e jornalista da RTP, ocupando por duas vezes o cargo de Diretor de Informação da televisão pública portuguesa. É um dos mais premiados jornalistas portugueses, tendo sido galardoado, além dos prémios já referidos, com o Grande Prémio de Jornalismo, em 1994, atribuído pelo Clube Português de Imprensa. Internacionalmente, venceu três prémios da CNN: o Best News Breaking Story of the Year, em 1994, pela história "Huambo Battle" relacionada com a Guerra de Angola; o Best News Story of the Year for the Sunday, em 1998, pela reportagem "Albania Bunkers"; e o Contributor Achievement Award, em 2000, pelo conjunto do seu trabalho, aquele que é considerado o Pullitzer do jornalismo televisivo.
José Rodrigues dos Santos é hoje um dos jornalistas mais influentes para as novas gerações e no panorama informativo nacional. No entanto, além da sua mais conhecida faceta como jornalista, José Rodrigues dos Santos é também um ensaísta e romancista. Especialmente nesta última vertente, tornou-se dos escritores portugueses contemporâneos a alcançar maior número de edições com livros que venderam mais de cem mil exemplares cada. Até ao final de 2007 publicou quatro ensaios e cinco romances. O romance de estreia, intitulado "A Ilha das Trevas" foi reeditado pela Gradiva, em 2007, atual editora do autor.
Em 2005, José Rodrigues dos Santos estabeleceu um acordo com uma das principais editoras a operar nos Estados Unidos da América, a Harper Collins, com o objetivo de lançar naquele país a obra "O Codex 632". O livro foi apresentado na Book Fair America de 2007 como um dos principais lançamentos daquela editora, estando agendada a sua publicação para o dia 1 de Abril de 2008 sob a chancela da William Murrow, um dos principais selos do grupo. O livro estará à venda na Barnes & Noble e na Borders, as duas principais livrarias dos EUA. Entretanto, outro acordo foi obtido pelo autor e e pela Gradiva com o Gotham Group, uma empresa de Los Angeles ligada às principais produtoras de Hollywood, tal como a Paramount, Twentieth Century Fox ou a Universal Studios, com o objetivo de adaptar "O Codex 632" ao cinema. A acontecer, José Rodrigues dos Santos será o segundo autor português, a seguir a José Saramago com "Ensaio sobre a Cegueira", a ver uma obra ser transposta para o cinema pelos estúdios de Hollywood.
Conforme é descrito no site da RTP, José Rodrigues dos Santos é um homem que perante os sérios problemas de um mundo em constantes convulsões não perde o sentido de humor, sendo-lhe atribuída a frase irónica: "Ainda não percebo porque é que o meu boneco do Contra Informação tem as orelhas tão grandes…"

Este mês sugerimos o livro...


A vida de José Branco mudou no dia em que entrou naquela aldeia perdida no coração de África e se deparou com o terrível segredo. O médico tinha ido viver na década de 1960 para Moçambique, onde, confrontado com inúmeros problemas sanitários, teve uma ideia revolucionária: criar o Serviço Médico Aéreo.

No seu pequeno avião, José cruza diariamente um vasto território para levar ajuda aos recantos mais longínquos da província. O seu trabalho depressa atrai as atenções e o médico que chega do céu vestido de branco transforma-se numa lenda no mato.

Chamam-lhe o Anjo Branco.

Mas a guerra colonial rebenta e um dia, no decurso de mais uma missão sanitária, José cruza-se com aquele que se vai tornar o mais aterrador segredo de Portugal no Ultramar.

Inspirado em factos reais e desfilando uma galeria de personagens digna de uma grande produção, O Anjo Branco afirma-se como o mais pujante romance jamais publicado sobre a Guerra Colonial - e, acima de tudo, sobre os últimos anos da presença portuguesa em África.

Este mês sugerimos o filme...


Capitães de Abril é um filme realizado por Maria de Medeiros, em 2000. A sua estreia teve bastante sucesso e recebeu vários prémios nacionais e internacionais. A história é baseada no golpe de estado militar, que ocorreu em Portugal, a 25 de Abril de 1974.
Capitães de Abril é a primeira longa-metragem de Maria de Medeiros como realizadora. Ela presta deste modo homenagem a esses jovens soldados que salvaram a sua pátria desse demasiado tempo obscuro, destacando-se Salgueiro Maia.
Na noite do 24 para o 25 de Abril de 1974, a rádio emite uma canção proibida: "Grândola, Vila Morena". Poderia apenas ter sido a insubmissão de um jornalista rebelde mas, na realidade, é um dos sinais programados do golpe de estado militar que vai transformar completamente o país, sujeito à ditadura do Estado Novo durante várias décadas, e o destino das colónias portuguesas em África e em Timor Leste.
Ao som da voz do poeta e cantor José Afonso, as tropas insurgidas tomam os quartéis. Cerca das três horas da madrugada, marcham para Lisboa. Pouco depois do triste acontecimento militar no Chile, a Revolução dos Cravos distingue-se pelo carácter aventureiro, mas também pacífico e lírico do seu decorrer.
Estas 24 horas de revolução são vividas por três personagens principais: dois capitães e uma mulher que é professora de literatura e jornalista.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor

Comemora-se, hoje, dia 23 de abril, o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor. Desde 15 de novembro de 1995 que, por iniciativa da Conferência Geral da UNESCO, se celebra em todo o mundo o prazer da leitura. A UNESCO distinguiu o dia 23 de abril para comemorar o livro por se tratar de um dia simbólico para a literatura mundial. Foi a 23 de abril que, em 1616, faleceu Miguel de Cervantes. Neste mesmo dia, também faleceu William Shakespeare.



Este mês podes ouvir...


Boss AC é um rapper e cantor de hip hop português filho de pais cabo-verdianos. É considerado um dos pioneiros do hip hop português, até mesmo considerado o pai do Hip-Hop Tuga.
Nascido Ângelo César, Boss AC é filho da cantora e atriz cabo-verdiana Ana Firmino e do pintor cabo-verdiano António N. Firmino (Toi Firmino).
Boss AC iniciou a sua carreira musical no final dos anos 80. Chegou a ser vocalista dos Cool Hipnoise, teve várias participações especiais em discos dos Da Weasel, General D e dos Delfins, o que lhe deu algum impulso no mundo da música.
Por essa altura ganharam alguma projeção rappers oriundos maioritariamente da zona periférica da Grande Lisboa. Esse movimento veio a traduzir-se na compilação "Rapública" (Sony, 1994), na qual Boss AC foi responsável pela produção, autoria e composição dos temas "Generate Power" e "A Verdade", marcando o arranque definitivo da carreira do artista.
No final de 1997 Boss AC partiu para os EUA, onde o álbum Manda Chuva, com a mistura de Troy Hightower, um dos mais requisitados misturadores de hip-hop dos EUA.
Depois de feita a gravação do disco em Nova Iorque, Boss AC regressou a Portugal e "Mandachuva" foi comercializado em 1998, marcando a estreia do cantor. O álbum experimenta novas abordagens musicais – ragga, soul, R&B – sempre em torno do hip-hop, bem como influências das suas origens africanas.
Seguidamente, juntou-se a Gutto, o líder dos Black Company uma das bandas que gravaram no Rapública, e formaram a No Stress, uma das maiores produtoras de hip-hop em Portugal.
Boss AC participou em trabalhos dos Xutos & Pontapés e dos Santos & Pecadores, compôs para cinema e televisão.
Em dezembro de 2002, Boss AC compilou os temas que foi criando durante esses anos no seu segundo álbum de originais, "Rimar Contra a Maré", inteiramente gravado, produzido e misturado pelo próprio autor, tendo sido considerado um álbum extremamente autobiográfico e um pouco negro, exteriorizando o seu desencanto com o mundo.
Em fevereiro de 2005 o videoclipe do single "Quieres Dinero", produzido com Gutto, foi nomeado para os African Music Video Awards, na categoria "Melhores Efeitos Especiais", do canal sul-africano "Channel O".
No mesmo ano, em março, Boss AC lança "Ritmo, Amor, Palavras", cujas misturas ficaram a cargo do seu colaborador de longa data, Troy Hightower, nos estúdios Hightower Productions, em Nova Iorque.
"Ritmo, Amor e Palavras" chegou ao estatuto de disco de ouro em agosto de 2005, com mais de dez mil cópias vendidas. Em outubro atingiu a marca de disco de platina, tendo vendido mais de 30.000 unidades até perto do final do ano. Dentro do género do hip-hop chegou a ser um dos três discos mais vendidos de sempre em Portugal. O single de estreia, "Hip-Hop (Sou eu e és tu)", ascendeu rapidamente aos primeiros lugares nos tops. Integrou, ainda, a banda sonora de vários programas de televisão com grande audiência nacional e entrou em múltiplas colectâneas editadas durante 2005. Em setembro de 2005 foi nomeado para os prémios da MTV Europe Music Awards, na categoria de Best Portuguese Act.
Boss AC empenhou-se numa digressão, com concertos em Portugal e também em Moçambique. Em outubro, o rapper português assegurou a primeira parte da estreia de 50 Cent em Portugal, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa.
AC Para os Amigos é o nome do mais recente álbum de Boss Ac editado em 6 de fevereiro e marca a estreia do músico pela Universal Music. “Sexta-feira (Emprego Bom Já)”, é o primeiro single do álbum.

Prémios e reconhecimento
Em 2006, o cantor foi candidato pela segunda vez consecutiva aos prémios da MTV Europe, na categoria de Best Portuguese Act, proeza nunca alcançada por outro músico em Portugal.
Tem participado em vários festivais de música cabo-verdianos, entre os quais o afamado Festival da Baía das Gatas, em São Vicente, o primeiro do género em Cabo Verde e quiçá o mais conceituado.
Em 2007, Akon convidou Boss AC para um remake do êxito "I Wanna Love You", incluindo videoclipe. Esse tema acabou por ser ouvido nos E.U.A, ficando em posições notáveis nas tabelas.
Em Janeiro de 2008, AC lançou o 1º tema do seu novo álbum, "Preto no Branco". O tema denomina-se "Levanta-te (Stand Up)", tendo o respectivo videoclipe sido lançado em 21 de julho na MTV. O álbum conta ainda com a participação de Mariza no tema "Alguém Me Ouviu (Mantém-te Firme)". O single, a música antes referida, "Levanta-te (Stand Up)" e ainda "Acabou (Até Te Esquecer)" fazem parte da banda sonora da série 'Morangos com Açúcar'. Boss Ac já anunciou que em Fevereiro irá lançar o seu novo álbum intitulado "Ac para os amigos", tendo já revelado uma das musicas do album chamada "Sexta Feira (emprego bom já)"

sexta-feira, 20 de abril de 2012

terça-feira, 17 de abril de 2012

O ladrão de palavras


Há muitos anos, havia um homem que roubava palavras. As nossas melhores palavras. Metia-as, cuidadosamente, num saco de linho e desaparecia. Para ser sincero, na nossa aldeia, que uma sebe de montes abraça, nunca ninguém viu o rosto do homem e ninguém lhe sabia o nome. Mas, pela manhã, as pessoas acordavam pobres. Pobres, sempre mais pobres e tristes.
As palavras, nesse tempo, eram de ouro.
O homem introduzia uma palhinha invisível no nosso silêncio e apartava as palavras. Da mesma arte se servia para desencaminhar palavras dos livros e dos jornais. Não as roubava todas, porque isso daria muito nas vistas. Ele aprisionava as palavras alegres, as mais luminosas, as nossas melhores palavras — e nós sobrevivíamos no meio de palavras sem sabor.
Palavra insípida é como fruto desconhecido do sol.
Cada dia vivido, menos palavras havia para agasalhar a tristeza. Era como se a mãe quisesse fazer um pão-de-ló e não houvesse açúcar; como se nós fôssemos abelhas proibidas de produzir mel.
Impedidos das palavras luminosas, emagrecia a imaginação: e assim seria impossível pedalar até ao fim dos sonhos. O sonho, na nossa aldeia, era veludo que enxugava a melancolia.
Nós conhecíamos o local onde o homem abrigava o saco da alegria. Ficava num bosque cerrado, nem o sol podia furar a copa das árvores. O bosque estava povoado de cogumelos: engordavam de sombra e de humidade. Alguns cogumelos atingiam a grandeza das árvores!
Nenhum de nós podia ir ao bosque. Entre outras palavras, ele roubou-nos a coragem. Também correu a notícia de que os cogumelos seriam venenosos. Todos os cogumelos, os pequenos — do tamanho de guarda-chuva aberto — e os grandes. Bastaria olhá-los e perderíamos a vida!
Com o andar do tempo, a nossa tristeza transformou-se em nuvem. E essa nuvem, de um momento para o outro, rasurou o sol em quase metade da aldeia: essa parte do povoado ficou sombria como o bosque.
Todos os dias, porque o silêncio era tecido de palavras sem sabor, a nuvem estendia o domínio. Temeu-se uma praga venenosa de cogumelos! Para afastar a maldição, pela manhã, queimávamos rama verde de pinheiro em redor das casas.
Os cogumelos, enfim, não levantaram a cabeça. Mas a nuvem, que medrava com o fumo da rama verde, tinha fome, imensa fome de claridade. Grande parte da aldeia, a dada altura, era noite. A calamidade! A calamidade, provocada pelo musgo verde, muito verde deu o primeiro sinal.
«Estranha doença!», disseram os velhos.
No rosto das crianças da aldeia despontou estranha barba, muito verde e húmida.
Testámos todos os xaropes caseiros e outras mezinhas da imaginação do povo Nada. Nada estorvava o avanço do musgo no rosto das crianças. E também de pouco valia ir ao barbeiro. Ele, com as costas da navalha, limpava a nossa cara, mas, na manhã seguinte, a barba irrompia com mais fulgor.
Os velhos disseram: «Ninguém pode ser homem antes do tempo, é contra as leis da natureza!»
Mandaram chamar o médico.
Não escondeu o espanto, o médico que veio de longe. Primeiro, por ver o dia e a noite no mesmo sítio e à mesma hora. Depois a surpresa multiplicou-se à medida que lhe surgiam meninos barbados e tristes. Apenas observou, com minúcia, uma criança, e achou remédio para rebater o mal de todas as outras. Abriu a pasta de couro, retirou um caderno e a caneta. Escreveu rápido. Entregou a receita, não aceitou o dinheiro da consulta. E partiu a toda a velocidade, como se a nossa doença alastrasse por contágio.
O ladrão de palavras estava junto de nós. Ninguém o viu, mas ele esteve sempre no meio de nós. Adivinhámos a sua presença pelas palavras que a palhinha invisível havia sorvido da receita:
«A sombra misturou-se com a tristeza. Só um, colher vezes dia            ,              ,            silêncio.»
A nuvem, nesse instante, cresceu largos metros: porque todos nós, velhos e novos, sem saber o que o médico nos havia indicado, ficámos ainda mais tristes. Mas a última palavra da receita (que o Ladrão terá achado de pouco valor para guardar no saco de linho), abria uma pista. Se descobríssemos o verbo que precedia silêncio, seria desvendado o mistério.
O automóvel do médico havia já dobrado o monte, e foi então, de forma inesperada, que se ouviu o grito:
«É preciso prender o ladrão de palavras!»
O grito atravessou a aldeia, acordou os cães do lado onde era noite, assustou as galinhas da parte onde era dia.
Uma mulher ergueu a voz e os braços na direção da nuvem: afrontou (afrontar, o verbo que procurávamos) o silêncio. De repente, outros habitantes resgataram a coragem, a palavra coragem, adormecida no bosque dos cogumelos!
A nuvem estremeceu, depois, como bicho do monte, fugiu espavorida. Num instante, o céu ficou leve, azul, imensamente azul. E sol, generoso, bebeu a nossa melancolia.
Em grande festa, o povo partiu à descoberta do bosque. Primeira surpresa: não havia cogumelos gigantes, muito menos venenosos. Mas o saco de linho estava lá, ao pé de um velho medronheiro. Abrimos o saco e o saco nada tinha!
Nesse dia luminoso, verdadeiramente luminoso, no saco de linho vazio prendemos o ladrão da alegria. Ele, afinal, era uma palavra — a palavra medo.

Francisco Duarte Mangas
O ladrão de palavras
Lisboa, Editorial Caminho, 2006